Luz do sol, acalentando o verde lá fora.
Flores, diferentes matizes. Girassóis na janela. Vidro jateado, filtra a
claridade, como véu. Tulipas em amarelo. Lembrei-me de Van Gogh e de Amsterdam.
As tulipas em quadro.
Girassol plastificado. Natural ou não, o foco tem equilíbrio
nas cores. À porta, na parede esquerda da torre vestida de pedra, uma aparente
folhagem fossilizada. Os passarinhos inundam de seu canto o espaço musical que
meu ouvido alcança.
Na moldura sobre o piano, uma graciosa foto
de um tempo passado. Mão, de cabelos brancos toca uma rosa amarela que se abriu. É Marina –
flor recolhida em algum monastério e seu jardim. Lá na Itália. É a “vecchia
mamma”, dos oito irmãos. É a saudade que toca meu peito. É a mana Eliana que
toca nas teclas de seu piano de ébano e marfim. Tom e semitom, ensinando que:
juntos somos mais que um. Harmonioso som ressonante, vibra em mim. A irmã bem dotada tira
do teclado - “A noite de meu bem”. Marina gostava de cantar – esta em especial. Eliana
vestida de branco e preto. Sua blusa em pois, repete a parceria do teclado de
noir e claro. Contou-me que mamãe usara esta mesma blusa, que agora veste. Seu
corpo, centrado sob o ritmo da melodia, que flui como regato entre pedras e
mato.
Precisa nem dizer que escrevo com os olhos
marejados. Quero registrar uma fotografia deste momento, neste foco, com a luz
do meu coração irmão. Quero fazer “doble” de mãos se afagando ( como Marina dizia
). Quem sabe em duo canto – será que pode? Eu com a caneta qual batuta. Eliana
unida no mesmo movimento, em seu dom e com seu tom de musicista.
No retrato de moldura por sobre o
instrumento musical – Marina sorri com singeleza. Defronte, o Realino alarga o
sorriso de menino. Seguro o cavaquinho – certo ar europeu – será pela boina?
Seu olhar envia e-mail afetuoso para a mulher de sua vida. Mixagem de amor mais
profundo ( demorei a entender seu jeito de amar ) e paz de criança dormindo.
Acredito sim, inda vivem em mim. Acredito sim,
em meus irmãos também. Enquanto a mão faz o toque do dó-ré-mi, a mana sensível
diz, no embalo da música, que esta muito lhe toca. Percebi, quando luz diáfana
em seu entorno aumentava o perímetro do corpo. A cabeça e as costas se
inclinaram. Certo clima de embevecimento impregnou a sala. Invisível mão no
queixo, em êxtase pela música e ao momento singular! É certo que é dia, mas
estou enxergando com a lente da alma. Amplia a visão, é sexto sentido, é
emoção.
Marina, na percepção de uma neta poeta, é a
primeira estrela que vier ao nosso pensamento. Eternizada, assim como seu par.
Hoje eu sei – este bem demorou a chegar – pra mim é claro! Sei que terei no
olhar toda a ternura que quero dar. De dia ou à noite, de meu bem. Por que hoje
eu sei que vou te amar. Por toda a minha vida eu vou te amar, Marina.

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