quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A Coopita - Cooperativa de Pedras - faz aniversário no mesmo dia que Nonô, o prefeito furacão de Belô e presidente Bossa Nova

A Cooperativa de Pedras Coopita, fundada em 12 de setembro de 2006 é a gestora das atividades de extrativismo mineral no Engenho na nossa cidade de Gouveia. É um projeto sócio-ambiental que resgata cidadania através do trabalho com as pedras ornamentais denominadas quartzito ou popularmente, pedra mineira. Há 32 anos desenvolvemos esse trabalho "tirando leite das pedras", entre homens dignos e mulheres valentes. Respeitando a mãe natureza e seu meio ambiente. 
O propósito da data de fundação estar ligada ao natalício de Juscelino é o de procurar tratar o semelhante, o homem do campo com o mesmo respeito e dignidade que nós brasileiros fomos carinhosamente acalentados por aquele homem de brilho e honestidade singular. 
O texto anexo registra uma fala junto ao COPAM em reunião na cidade de Datas em 13 de março de 2006 após um período de paralisação na jazida com graves prejuízos sócioeconômicos aos trabalhadores e suas famílias na questão da sustentabilidade.

                        

                                     “Tirando leite das pedras”

Na apuração de João Guimarães Rosa “Minas são muitas”. Brilhante e multifacetado, ele é artista de quilate na lapidação de palavras e reflexões.
Seguindo esse caminho de reflexão em direção às origens, vamos encontrar no fundo da bateia ou em cima de uma peneira; melhor na busca do ouro e do diamante, iniciada há três séculos a vocação, o corpo e a alma, desta Minas Gerais.
O Estado foi forjado em aspectos geopolítico, econômico e cultural através da exploração daqueles bens minerais. Hoje, um saboroso queijo do Serro, a arte e a arquitetura barroca, o maior parque siderúrgico do país, uma peça de tecido de grande manufatura, têm em comum o desenvolvimento alavancado por recursos gerados pela extração e comércio do ouro e diamante. Mesmo a rebeldia dos Inconfidentes contra os desmandos da Corte Portuguesa, surgiu da obstinação de homens que há 300 anos se fixaram neste rincão distante do mar para, na ventura, encontrar a sorte, no ofício da mineração.
Este breve resgate da memória e da nossa história faz emergir a atualidade daqueles acontecimentos, para nossa realidade de região mineradora. Diamantina, Serro, Datas, Gouveia e outras mais, são cidades cujo extrativismo mineral é a principal renda, em alguns casos a única.
Gerar renda próximo ao habitat do trabalhador, principalmente da área rural, é fundamental. É a “menina dos olhos” dos projetos sócio-econômicos de organizações do governo e também não-governamentais.
Dignidade e cidadania nascem do trabalho e não de esmolas, e este é digno em qualquer degrau social.
O êxodo histórico da região direcionado às periferias das grandes metrópoles, inchando as favelas e aumentando as estatísticas do desequilíbrio social, pode ser evitado e minimizado se incrementadas as ações da sociedade permitindo a inserção ao trabalho de pessoas que não têm categorização dentro dos mais diversos e perversos quadros de qualificação impostos pelas estruturas sociais modernas, às comunidades não suficientemente desenvolvidas.
A extração mineral seja do ouro, diamante ou rocha ornamental como o quartzito abraça essa causa de uma maneira singular e objetiva.
Não se pode prescindir de equipamentos nessa era moderna. Mas ainda hoje e por muito mais tempo o braço do trabalhador é prioritário. Desde o remoto passado da capitania, ainda se faz necessário e a presença do homem é cada vez mais relevante. E o mais importante, nesta atividade: sem a qualificação exigida por um mercado mais seletivo.
Nossa cidade Gouveia não herdou proporcionalmente solos propícios à atividade agrícola e pastoril. Em compensação, temos um patrimônio rico, a ser explorado; é como um tesouro guardado em nosso subsolo.
Atualmente existe uma legislação específica às questões ambientais. Órgãos gestores do meio ambiente, na esfera federal IBAMA, na escala estadual Copam, interagem com os empreendedores, orientando e fiscalizando os projetos, visando o equilíbrio entre o homem e o ambiente em que vive.
As leis precisam e devem ser respeitadas. Mas a dignidade e o trabalho do homem precisam e devem ser preservados.
Harmonizar leis, meio ambiente e geração de renda através do emprego da mão-de-obra local é um dos pilares de sustentação da parceria firmada entre o estado, o empreendedor e o trabalhador.
Somos favoráveis, enquanto empreendedores, ao desenvolvimento econômico de atividade mineraria com vistas à preservação do meio ambiente.
Na derradeira reunião do Copam (11-09-05) na cidade de Águas Vermelhas, na presença do presidente Dr. Shelley Carneiro, foi assinada e autenticada pelos conselheiros uma moção de desembargo das atividades da pedreira do Engenho, em nosso município. Decisão esta que, não se limitando às questões técnicas, contemplou com mais ênfase o enfoque humano.
Deliberação que permitiu a mais de uma centena de famílias se alegrarem com a real possibilidade de retorno à liberdade de trabalho para seus homens. Pois no dizer de uma menina que reside no Engenho: “Como arranjar emprego para tantas pessoas? Então esta pedreira não pode parar, pois sem ela somos como um peixe fora da água”.
Portanto defender o verde sim, apoiamos. Deixar o homem e a mulher “amarelo” de fome, não concordamos.
Estamos aprendendo há vinte e cinco anos, a lidar com a natureza física e a natureza humana, na pedreira de sol quente e água pouca. Porém, se quisermos evoluir podemos sim, submetendo-nos e respeitando as leis da natureza. Pois assim sendo ela nos obedece. Parece um paradoxo, porém quem afirmou isso é o filósofo inglês Francis Bacon, há cerca de 400 anos.
Algumas pessoas venho auxiliando não com o dinheiro, sim ao trabalho. Resgatando cidadania, auto-estima e dignidade. Praticamos há quatro anos o cooperativismo, a parceria. Agora sei que se fortalece o trabalho do indivíduo no trabalho de todos. Ganhos coletivos geram maiores ganhos individuais. Esse é um princípio norteador da economia solidária. Nasceu, pioneira, aqui em Gouveia, na forma de coexistência do sêmen de 23 pais os sócios fundadores, a COOPITA- Cooperativa dos Extratores de Pedra da Serra do Espinhaço Ltda.
Veja quem e de onde estou falando. Até ontem era empresário, patrão, antagonista. Hoje é minha idéia que precede o advento de um novo tempo e um novo pacto social. Uma região estigmatizada por relações servis degradantes e mesmo de escravização, no passado colonial. Hoje vivo essa realidade, ontem guardada em meu sonho.
Sou como cunha, usada para separar as placas da pedra mineira.
Sou como a alavanca de pouca valia, porém permite ao homem que labora a rocha, tirar “leite das pedras”.
No universo social que vivo, sou como uma ninharia, uma “nonada” no dizer do erudito e popular Guimarães Rosa.
Contudo, perante o Criador desse grande universo, por meus praticados junto aos homens da pedra, tenho certeza que passo credibilidade.

Fernando das Pedras (Fernando Antônio Linhares de Araújo
13/03/2006
Reunião do Copam – Cidade de Datas
Documento registrado nos anais, nos termos do estatuto do Copam.




  





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