ANTIGA MENTE BRILHANTE MENTE
No princípio era o verbo. Cálidas palavras proparoxítonas
preenchiam emocionadas cartas. Flechas de cupido vazavam corações entrecortados
por geografias apartadas. No demorado tempo de vinte dias, correspondiam ansiosos,
mãos jovens temperadas de paixão e sonho. Que seja infinito o amor, enquanto
dure. Pois, sendo chama , permite que não seja perene, que pena! Passou.
Passaram mil e uma noites, milhares! Estrelas brilharam no céu, fazendo sua
peregrinação na rotina cósmica do caminho de San Tiago.
Entregamos as armas que nos permitiam viver o calor das
batalhas verbais. Escalar desafios em picos de afeto, pra quê?Não os merecíamos
mais. Nem cordas, nem elos, nem mesmo ganchos atracados à rocha de sólido sentimento-o
amor.
A Terra fez muitas de suas revoluções, grisalhando minha cabeça,
mas preservando sensível e brilhante mente, cérebro doado por Deus. Que no
princípio era o Verbo...
Levando a bola da minha vida, cada vez mais próxima do fim
do jogo (isso é implacável a todos viventes), percebo que vivi até aqui, sem
muitas goleadas adversárias. Pouco dinheiro, mas com saúde e sorte. Sou feliz, não
sou rico, prosperei. Um rei sem rainha e sem reinado. Amado sim, os três filhos
assinam abaixo. Cuca fresca, mente arejada, pois bons ventos sopram,(ou
sussurram idéias poéticas?) promovendo
fantásticas viagens, deslumbrantes roteiros, agenciados por pensamentos
robustos,registrados em diário de bordo,atualmente guardados na memória farta e veloz de um
micro computador.
Onde foram se abrigar as cartas do passado?As românticas,
perfumadas, fios de cabelo da amada e ainda aquelas, ah! Com beijo selado em
batom carmim? Viraram pó, comidas por traças da modernidade.
Travestiram-se em e-mail, msn, libélulas fugazes, flagradas em bando, amigas, no coletivo da rede social. Facebook, blog,twiteer, tudo very fast, migalhas de afeto,cool and dry, na velocidade da luz.O diálogo midiático oco, texto raso e insosso o tempero dos argumentos.
A máxima é: Time is money, ou mesmo: Seja breve! Poucos respondem, na azáfama do
dia a dia. E o quê de pior: Assassinato da gramática, com estrangulamento da vítima,ou melhor: O léxico. Crime de lesa lingua pátria, duplamente qualificado. Crédito ao enxame de diplomas universitários,causadores de queimadura do terceiro grau, em verbetes espalhados em todo o corpo social. Haja saco, pra suportar banalidades e cantadas explícitas , cérebro estreito defecando em meio de banda larga!
Aí! Que saudades que tenho, da aurora da minha vida... Distanciados,
sem link da internet e outros meios, encaminhávamos o envelope contendo o sofrido
e excitante sentimento, adicionado a um selo, nas asas do Correio Aéreo Nacional.
Dias se passavam e pousava líquido e certo (com AR-aviso de recebimento) no
endereço real, do galante missivista ou da musa que tanto inspirou e suspirou.Virtual
mesmo, era a cascata suscetível de impressões vazadas –pingos de ternura como
nas cartas de uma Marília e seu Dirceu,de um Abelardo e sua desejada Heloísa.
Cartas emocionadas preenchidas por cálidas palavras
proparoxítonas, qual flechas de cupidez, vazavam corações e mentes apartadas.
Faladaspedras
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