DIÁRIO DE BORDO, PÁGINA 153
Gosto muito do Fernando, não só daquele que percebo ser a imagem minha
refletida no espelho. Rodeado de uma aura de sonhos, verbo e algumas ações que
me fez crescer no justo tamanho de meu interno. Reflito agora, na luz de outra
pessoa; Fernando, grande poeta lusitano. Talentoso, hábil com sua melhor
ferramenta, a palavra, ele é um caminho novo e audacioso, no curso de mares
nunca dantes navegados, mesmo por Camões. Nas letras inspiradas do lisboeta
genial, ficou eternizado o canto à vida que dizia,vale à pena, se a alma não é
pequena. Contudo, em sua trajetória terrena, deu mostra da contradição, tanto
em sua arte, quanto em sua ação, vetor da própria morte.
“Quanto mais claro vejo
em mim, mais escuro é o que vejo.
Quanto mais compreendo, menos me sinto
compreendido.
Ó horror paradoxal deste pensar...”
Mais um bipolar de brilho que se ofuscou ,no transtorno de humor
de extremos.Inda bem que no século XXI,
a ciência racional avançou e pode resgatar náufragos perdidos em oceanos de dúvidas,ansiedade,bem
longe de uma ilha de auto conhecimento e a brisa acalmadora do amor próprio.
Esse romantizar da escrita é autoral do Fernando Antônio, cronista de
um burgo mineiro. O modernista e xará português, não tem esses afrescos de um
barroco tardio, mas é tal como vivo.
“Temos, todos que
vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.”
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.”
Mesmo correta, a estética e também a poética, percebo um movimento
pendular que interfere na dinâmica realidade do homem e da mulher enquanto
sujeitos àquele distúrbio comportamental, cada vez mais corriqueiro na pressa
urbanóide que o grande capital impõe nas megas cidades. Desafortunadamente é a
realidade.
“Pesa tanto e a vida
é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!”
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!”
Precisa mais exemplo de conflito e paradoxo entre a mente e o coração?
Ou prefere a versão, sentimento versus razão? Pra mim, são necessários esses
dois pilares para sustentar e equilibrar o edifício humano, o sutil e o denso.
A medicina, os fármacos, a psicologia, a cultura, o lazer, etc. são
revestimentos importantes, uma espécie de pele sintética, a blindar do intemperismo
que pode nos adoecer o espírito ou a matéria. Uma certeza, o branco dos cabelos
me garante: o cimento do amor, a liga que nos faz feliz é sumamente importante.
Sem ele na corrente elétrica que nos leva ao centro, que refrigera a alma,
mesmo não sendo esta pequena, a vida não vale a pena...
“Porém, não busqueis
poder no amor.
Que só quem da sua
lei se sente escravo,
pode considerar-se realmente livre”
pode considerar-se realmente livre”
Daí que a poesia encanta e arrebata os mais sensíveis. Ela se manifesta
nos mais singelos gestos. Não carece de palco e nem platéia a dispor de palmas,
pode acudir um doente ao leito, despertando a bela adormecida vontade de viver.
Pode ser gerada na alma de um infante feliz, ou mesmo dentro do coração de um
adulto que preserva sua criança interna. Por favor, espera, já vai terminar. Tá
bem frio lá fora, são as montanhas de Minas, guarnecendo o clima para reflexão.
Eu gosto, insisto e invisto. Ainda quero dizer que não busco mais, só o poder, me
regala a liberdade de ser cativo do amor de três filhos, construído no caminho
de pedras, direto de meu coração desacorrentado. Há pouco,me surpreenderam com
um domingo das mães, à moda.Vieram a visitar-me nesse dia que se reverencia a
genitora.Prometo uma página especial por esse feito, registrada nesse diário
que espelha minha alma.
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