quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Fernando Antônio no plural, personas singulares e algumas facetas comum de dois



                   

                                                DIÁRIO DE BORDO, PÁGINA 153
   


Gosto muito do Fernando, não só daquele que percebo ser a imagem minha refletida no espelho. Rodeado de uma aura de sonhos, verbo e algumas ações que me fez crescer no justo tamanho de meu interno. Reflito agora, na luz de outra pessoa; Fernando, grande poeta lusitano. Talentoso, hábil com sua melhor ferramenta, a palavra, ele é um caminho novo e audacioso, no curso de mares nunca dantes navegados, mesmo por Camões. Nas letras inspiradas do lisboeta genial, ficou eternizado o canto à vida que dizia,vale à pena, se a alma não é pequena. Contudo, em sua trajetória terrena, deu mostra da contradição, tanto em sua arte, quanto em sua ação, vetor da própria morte.
“Quanto mais claro vejo em mim, mais escuro é o que vejo.
 Quanto mais compreendo, menos me sinto compreendido.
 Ó horror paradoxal deste pensar...”
Mais um bipolar de brilho que se ofuscou ,no transtorno de humor de  extremos.Inda bem que no século XXI, a ciência racional avançou e pode resgatar náufragos  perdidos em oceanos de dúvidas,ansiedade,bem longe de uma ilha de auto conhecimento e a brisa acalmadora do amor próprio.
Esse romantizar da escrita é autoral do Fernando Antônio, cronista de um burgo mineiro. O modernista e xará português, não tem esses afrescos de um barroco tardio, mas é tal como vivo.
“Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.”
Mesmo correta, a estética e também a poética, percebo um movimento pendular que interfere na dinâmica realidade do homem e da mulher enquanto sujeitos àquele distúrbio comportamental, cada vez mais corriqueiro na pressa urbanóide que o grande capital impõe nas megas cidades. Desafortunadamente é a realidade.
“Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!”
Precisa mais exemplo de conflito e paradoxo entre a mente e o coração? Ou prefere a versão, sentimento versus razão? Pra mim, são necessários esses dois pilares para sustentar e equilibrar o edifício humano, o sutil e o denso. A medicina, os fármacos, a psicologia, a cultura, o lazer, etc. são revestimentos importantes, uma espécie de pele sintética, a blindar do intemperismo que pode nos adoecer o espírito ou a matéria. Uma certeza, o branco dos cabelos me garante: o cimento do amor, a liga que nos faz feliz é sumamente importante. Sem ele na corrente elétrica que nos leva ao centro, que refrigera a alma, mesmo não sendo esta pequena, a vida não vale a pena...

 “Porém, não busqueis poder no amor.
Que só quem da sua lei se sente escravo,
pode considerar-se realmente livre”
Daí que a poesia encanta e arrebata os mais sensíveis. Ela se manifesta nos mais singelos gestos. Não carece de palco e nem platéia a dispor de palmas, pode acudir um doente ao leito, despertando a bela adormecida vontade de viver. Pode ser gerada na alma de um infante feliz, ou mesmo dentro do coração de um adulto que preserva sua criança interna. Por favor, espera, já vai terminar. Tá bem frio lá fora, são as montanhas de Minas, guarnecendo o clima para reflexão. Eu gosto, insisto e invisto. Ainda quero dizer que não busco mais, só o poder, me regala a liberdade de ser cativo do amor de três filhos, construído no caminho de pedras, direto de meu coração desacorrentado. Há pouco,me surpreenderam com um domingo das mães, à moda.Vieram a visitar-me nesse dia que se reverencia a genitora.Prometo uma página especial por esse feito, registrada nesse diário que espelha minha alma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário