Preciso esclarecer aos internautas
leitores desse blog que este se iniciou a partir de uma referência a importante
personalidade nacional, Juscelino Kubitschek cujo nascimento foi em Diamantina
em 12 de setembro de 1902. Desde criança, por influência direta de minha mãe
Marina, passei a admirá-lo e venho estudando, no correr do tempo sua singular
biografia. A criação de Brasília mereceu um texto que hoje está disponível no
Memorial JK, na capital federal, documento de minha autoria e que muito me
honra esse arquivo pertencer àquele importante acervo.
De uma maneira
subjetiva e aleatória venho arrematando entre ponto e linha, a textura delicada
de uma “colcha de palavras-retalhos”. Experiências emotivas e vivificadas que o
filtro sensível, tambor do peito faz eco dentro de mim.
Já me perguntaram,
pessoas mais próximas, porque dei ênfase aos filhos que vieram de nós e ainda
não dei trato à minha gênese. Com muito contentamento lhes apresento, uma das
mais belas histórias, guardada naquele baú de memórias: Um casal cinqüentenário,
o homem de sete ofícios, honesto e trabalhador de nome sonoro e musical,
Realino e sua companheira pública funcionária, mulher de fartura de
inteligência e abnegação, Marina,
mãe, amiga, cúmplice, incentivadora.
Sugiro
colocar a imaginação, qual alavanca para penetrar nas entrelinhas desse enredo,
como um filme de Charles Chaplin, o genial Carlitos.
Então,
vamos lá: Luz, câmera, ação...
Marina e sua aura de alegria, Realino ao fundo e duas filhas Maria (Diva e Eliana)
Dupla comemoração aos 86 anos
“MIMORA”
Era
uma vez um casal... Assim se iniciam as mais belas histórias, não é? Essa que
vou narrar pequena parte, seu encanto e conteúdo, muito me cativou. Então...
Era uma vez um casal que conviveu em
matrimônio, abençoado por Deus, senão em harmonia, o suficiente para ”comerem
um saco de sal”. O que, na milenar sabedoria chinesa, se traduz em “tempo do
conhecimento mútuo. Marido e mulher, depois de inteirado seu cinqüentenário de
união, ficam parecidos, né...?
Marina
Linhares, pública funcionária por longos e dedicados trinta e três anos e dois
turnos diários, outro mais, em ritmo abnegado ao companheiro e a “penca” de
descendentes, que se construiu, com o melhor de si, a partir de seus trinta e
dois janeiros, (já “coroa” pra sua época).
Mulher de fartura na inteligência e amor sem limite aos seus e com quem
conviveu. Hoje posso lhe dar o apelido beija flor, na tarefa nobre de polinizar
afeto nessa Terra, onde em tão bom tempo, seu jeito de ser, nos alegrou. Dinâmica,
diligente, concluiu brilhante carreira, na condição mais graduada que os “machões”,
de antanho, concediam às mulheres executivas e competentes. Em nosso lar, não
permitia “um isso” que fosse de crítica, dos filhos ou vizinhos, ao marido que
na qualidade de “doméstico”, ou “camisolão”; maldosamente, assim se falava,
enquanto zelava pelas “três Marias” e a escadinha que se criou com a chegada
sucessória dos cinco filhos,” os meninos”, como carinhosamente, nossa mãe
dizia.
Exemplo
prático e bem atual, onde casais se digladiam na disputa de quem tem mais
status. São belipotentes na contenda, para
a “educação e relacionamento com os seus”, não se permitindo ser simplesmente,
pai e mãe. Agem no sentido de rebaixar a própria estatura emocional, caso
doentio, onde se faz necessário ter, mais recurso pecuniário, para dispêndio de
tratamento com médicos, psicólogos, analistas. Nasce, aqui e agora, “um paradoxo
teratogênico”, ovo choco e abandonado, devido à frieza de dois gametas
incompetentes para amar.
No
mundo da virtualidade, de máquinas que processam imagens, ”on line”, vindas do
outro lado do planeta e mesmo da estratosfera, em frações de segundos, a
humanidade demora em perceber que grassa uma pandemia, nos cinco continentes,
adoecendo coração e mente de vinte por cento da população. Acometendo aquele
ser, anônimo habitante das grandes cidades. O nome dela, antigamente era
psicose maníaca depressiva, em outro rótulo, aparece como depressão, mais
adiante é mutante, pra mania e recente, a embalagem indica bipolaridade. A
medicina alopática encontra dificuldade em capturar a realidade patológica,
mesmo em câmaras de ressonância magnética.
Ignorante,
na sabedoria de Hipócrates e paciente que sou, o bom senso aconselha que o
vazio no coração, regido pela opressão da angústia existencial, resume-se, na
carência de amor vivenciado. Tenho razoável experimento, positivista, intuitivo
nesse quesito. Afinal são mais de quarenta anos de peregrinação...
Dei
“uma viajada”, se bem que, contextualizada, necessária e suficiente. De novo ao
foco...
Realino
Paulino, nome sonoro e musical, qual sino badalando em modesta capela, na hora
solene de Ângelus, no empoeirado do seu tempo, moleque, calças curtas, pés
descalços, nos pastos abertos, nas Pedras Vermelhas. Casa do vô Luiz e da vó
Augusta, a quem, não conheceram todos os netos, por sua morte prematura, depois
que o caçula, Titunico nasceu, primeiro hippie que me lembro ter visto, em “HD”,
ao vivo e a cores. Memórias da outra face da Moeda velha, reminiscências
gostosas, da algazarra de um bando de alegres meninos e meninas
maritacas, alastrando-se para cima dos pés e bicando jabuticabas,
bitelas, maduras e saborosas.
Contudo,
aquele homem habilidoso e de pouca instrução, me ministrou sábias lições de
vida que só o tempo que tudo cura, soube me aconselhar. Na sua simplicidade
falava, por exemplo, da boa “mimora” que na minha “culta ignorância”, me
envergonhava em ouvir. Por ora quero me ater somente a essa mágica e
maravilhosa arquitetura que Deus desenhou dentro da caixa craniana. Em mim
mora... A quem o Criador permitiu arquivar e nos deu a chave do abrir e do
fechar e todo o conhecimento, nesse micro cosmos memorial. Pessoal e intransferível,
inviolável a qualquer senha ou cartão clonado, nesse mundo cada vez mais
inchado de tresloucados e podre de desonestos. Portanto temos um, “PC”, de altíssima
capacidade, ao nosso dispor, com atualizações formatadas a todo instante e a
custo zero, subutilizado, ocioso em 97% de sua memória “hard and soft”. Quanto
desperdício de energia renovável, nesse universo de ecologia interna! Papai do
céu, cada vez mais me surpreende com Sua “mão aberta”! Herdamos o plano de vôo,
para o nosso todo existir, presente na cabine do piloto, cérebro inteligente, ”caixa
preta” indelével, enquanto se permitir e vida sadia houver.
A guisa de informação, os gênios da humanidade,
tais como: Albert Einstein, Amadeus Mozart, Isaac Newton, utilizaram cerca de
8% do intelecto armazenado na “casa do almoxarifado particular”, a “mimora”, no
dizer de um matuto, na obra do imortal e erudito, Guimarães Rosa, ou do simples
e sonoro Realino que reencontrou seu refúgio, junto à Marina. Agora, ainda inspirado em Rosa, ouso afirmar
que eles “se encantaram”.
“O
Realino é homem de sete instrumentos”! Dizia Marina, seu “ninho”. A família,
seu refúgio. Fez instrumento, olha o cavaquinho! Fez a Marcha Moedense, música
de lavrador arando poesia e foi tocando em frente... Na menina de meus olhos de
criança, raios luminosos lhe seguiam fascinado. Às vezes, lhe via fitando pro
ar, mirando o nada... Sobranceiro olhar, feito pomba avoante querendo arribar...
Essa vontade chegou de mansinho e sem agonia. Tarde, “muitos anos voaram no
tempo apressado”, no peito de quem ficou sentiu dor. As “andorinhas voltaram ao
velho ninho”. Agora, Realino e Marina, pra sempre unidos, nas asas da Paz do
Senhor.
De onde está minha mãe, essa, insiste em me
fazer lembrar, através de e-mails, inter via láctea que não devo me esquecer de
fazer “o jogo do contente”. Ser persistente, em busca dessa tal felicidade,
cuja chave e semente está “inside me”. Quem sabe, continua guardada na imensa e
gratuita memória que humaniza e harmoniza a todos nós? Ecos da minha feliz e
velha infância me fazem recordar de outras tantas palavras sábias, dessa mulher
que pacientemente, me aninhou em seu útero, por nove meses, me amou
intensamente e de quem não tenho saudade mais...
Assustei você, leitor? Calma, esse “rio” de
dúvidas vai espraiar. A nostalgia que me permite só suave lembrança foi
abarcada, pelo amor que suguei de seu peito e me alimentou a afortunada
infância, criou raízes em mim e ainda circula em minhas veias abertas. Vaza meu
coração e fez correnteza em todo meu ser. Tem sua origem, na memória que
momento algum, faz me esquecer de Marina: mãe, amada, amiga, professora, cúmplice,
incentivadora. Meu sucesso como homem de pé e não, cobra rastejante comedor da
poeira de meu caminhar, todo o crédito é dela, vaso feminino do amor perpassado
aos oito filhos gerados. Cada um, com seu bom bocado, cada qual com seu quinhão,
na comunhão do amor em pedaços, de igual e imensurável dom.
O
exercício da memória carece de ser constante, “halteres mental”, ”Pilates
cerebral”, pouco importa a nomenclatura, necessário é praticar. Ainda do gênio
de Einstein, a frase: ”Depois que uma mente se expande, nunca mais será a mesma”.
Definitivamente, não sou abalizado para inquirir o funcionamento e a fisiologia
da mente humana. Todavia, a intuição que me guia, em madrugadas mergulhadas no
silêncio dessa casa plantada em sítio tranqüilo, me permite refletir que estou
caminhando na direção certa, no sentido e meta, do segredo, do secreto, do
sagrado que habita meu interno. A luz que o Criador permitiu ser, através da
união de Realino e Marina que na Terra, não estão mais, mesmo assim continuam VIVOS,
meus pais, eternizados na mina pródiga, a minha singular MIMORA.
16/11/2011*
PS_
Não existem coincidências e nem por acaso. Escrevi esse texto justo no momento
que refletia o positivismo e o caráter reto de meu pai. Em outra oportunidade,
cabe dizer mais...
A
data, sem prévio acordo é a mesma na qual renasceu há sete anos. “Eu nem
sonhava te amar desse jeito”... Dedico
essas palavras acima a todos que interessar possa, de nossa família e afins.
Fernando
Linhares
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