quarta-feira, 10 de abril de 2013

"MIMÓRA"



                           "MIMÓRA"           

                                                     ERA UMA VEZ UM CASAL...



              Preciso esclarecer aos internautas leitores desse blog (www.faladaspedras.blogspot.com) que, este se iniciou à partir de uma referência à importante personalidade nacional, Juscelino Kubitschek cujo nascimento foi em Diamantina em 12 de setembro de 1902. Desde criança, por influência direta de minha mãe Marina, passei a admirá-lo e venho estudando, no correr do tempo, sua singular biografia. A criação de Brasília mereceu de mim, um texto que hoje, está disponível no Memorial JK, na capital federal. Documento autoral e que muito me honra esse arquivo pertencer, àquele importante acervo.
             De uma maneira subjetiva e aleatória venho arrematando entre ponto e linha, a textura delicada de uma “colcha de palavras-retalhos”. Experiências emotivas e vivificadas que o filtro sensível, tambor do peito faz eco dentro de mim.
             Já me perguntaram, pessoas mais próximas, porque dei ênfase aos filhos que vieram de nós e ainda não dei trato à minha gênese. Com muito contentamento lhes apresento, uma das mais belas histórias, guardada naquele baú de memórias: Um casal cinqüentenário, o homem de sete ofícios, honesto e trabalhador de nome sonoro e musical, Realino e sua companheira pública funcionária, mulher de fartura de inteligência e abnegação, Marina, mãe, amiga, cúmplice, incentivadora.
          Sugiro colocar a imaginação, qual alavanca para penetrar nas entrelinhas desse enredo, como um filme de Charles Chaplin, o genial Carlitos.
             Então, vamos lá: Luz, câmera, ação!


 Marina e sua aura de alegria, Realino ao fundo e duas filhas Maria (Diva e Eliana)
Dupla comemoração aos 86 anos
                                                     
                   “MIMORA”
              Era uma vez um casal... Assim se iniciam as mais belas histórias, não é? Essa que vou narrar pequena parte, seu encanto e conteúdo, muito me cativou. Então...
                  Era uma vez um casal que conviveu em matrimônio, abençoado por Deus, senão em harmonia, o suficiente para ”comerem um saco de sal”. O que, na milenar sabedoria chinesa, se traduz em “tempo do conhecimento mútuo. Marido e mulher, depois de inteirado seu cinqüentenário de união, ficam parecidos, né...?
              Marina Linhares, pública funcionária por longos e dedicados trinta e três anos e dois turnos diários, outro mais, em ritmo abnegado ao companheiro e a “penca” de descendentes, que se construiu, com o melhor de si, à partir de seus trinta e dois janeiros, (já “coroa” pra sua época).  Mulher de fartura na inteligência e amor sem limite aos seus e com quem conviveu. Hoje posso lhe dar o apelido beija flor, na tarefa nobre de polinizar afeto nessa Terra, onde em tão bom tempo, seu jeito de ser, nos alegrou. Dinâmica, diligente, concluiu brilhante carreira, na condição mais graduada que os “machões”, de antanho, concediam às mulheres executivas e competentes. Em nosso lar, não permitia “um isso” que fosse de crítica, dos filhos ou vizinhos, ao marido que na qualidade de “doméstico”, ou “camisolão”; maldosamente, assim se falava, enquanto zelava pelas “três Marias” e a escadinha que se criou com a chegada sucessória dos cinco filhos,” os meninos”, como carinhosamente, nossa mãe dizia.


  "Chora" o cavaquinho de   Realino . Seu amor sem limite faz canção pra musa inspiradora: rosa Marina, flor mulher, "flormusura"
Exemplo prático e bem atual, onde casais se digladiam na disputa de quem tem mais status.  São belipotentes na contenda, para a “educação e relacionamento com os seus”, não se permitindo ser simplesmente, pai e mãe. Agem no sentido de rebaixar a própria estatura emocional, caso doentio, onde se faz necessário ter, mais recurso pecuniário, para dispêndio de tratamento com médicos, psicólogos, analistas. Nasce, aqui e agora, “um paradoxo teratogênico”, ovo choco e abandonado, devido à frieza de dois gametas incompetentes para amar.
           No mundo da virtualidade, de máquinas que processam imagens, ”on line”, vindas do outro lado do planeta e mesmo da estratosfera, em frações de segundos, a humanidade demora em perceber que grassa uma pandemia, nos cinco continentes, adoecendo coração e mente de vinte por cento da população. Acometendo aquele ser, anônimo habitante das grandes cidades. O nome dela, antigamente era psicose maníaca depressiva, em outro rótulo, aparece como depressão, mais adiante é mutante, pra mania e recente, a embalagem indica bipolaridade. A medicina alopática encontra dificuldade em capturar a realidade patológica, mesmo em câmaras de ressonância magnética.
Ignorante, na sabedoria de Hipócrates e paciente que sou, o bom senso aconselha que o vazio no coração, regido pela opressão da angústia existencial, resume-se, na carência de amor vivenciado. Tenho razoável experimento positivista e intuitivo, nesse quesito. Afinal, são mais de quarenta anos de peregrinação...
             Dei “uma viajada”, se bem que, contextualizada, necessária e suficiente. De novo ao foco...
Realino Paulino, nome sonoro e musical, qual sino badalando em modesta capela, na hora solene de Ângelus, no empoeirado do seu tempo, moleque, calças curtas, pés descalços, nos pastos abertos, nas Pedras Vermelhas, Moeda. Nova face, fase nova, na busca de qualidade de vida ambientalmente sustentável. Geográfico cenário de rara beleza. "Patchwork", remendado com a linha do belo horizonte.   Lençol de montanhas entremeado em tapete verde, fios de ouro solar, rico brocado debruçado nas janelas de pedra antiga. Nascida, em remotas eras, sob o caminhar atemporal do sol onipresente.    
          Revelo agora, retrato do passado, telúrico amontoado de poucas almas, gema rara, de ecologia vivida, no alarido das férias, minha lúdica infância . Casa do vô Luiz e da vó Augusta, a quem, não conheceram todos os netos, por sua morte prematura, depois que o caçula, Titunico nasceu, primeiro hippie que me lembro ter visto, em “HD”, ao vivo e a cores. Memórias da outra face da Moeda velha, reminiscências gostosas, da algazarra de um bando de alegres meninos  e meninas  maritacas, alastrando-se pra cima dos pés e bicando jabuticabas, bitelas, maduras e saborosas.
             Contudo, aquele homem habilidoso e de pouca instrução, me ministrou sábias lições de vida que só o tempo que tudo cura, soube me aconselhar. Na sua simplicidade falava, por exemplo, da boa “mimora” que na minha “culta ignorância”, me envergonhava em ouvir. Por ora quero me ater somente a essa mágica e maravilhosa arquitetura que Deus desenhou dentro da caixa craniana. Em mim mora... E a quem o Criador permitiu arquivar, nos deu a chave do abrir e do fechar. Além de todo o conhecimento, nesse micro cosmos memorial. Pessoal e intransferível, inviolável a qualquer senha ou cartão clonado, nesse mundo cada vez mais inchado de tresloucados e podre de desonestos.  Portanto temos um, “PC”, de altíssima capacidade, ao nosso dispor, com atualizações formatadas a todo instante e a custo zero, subutilizado, ocioso em 97% de sua memória “hard and soft”. Quanto desperdício de energia renovável, nesse universo de ecologia interna! Papai do céu, cada vez mais me surpreende com Sua “mão aberta”! Herdamos o plano de vôo, para o nosso todo existir, presente na cabine do piloto, cérebro inteligente, ”caixa preta” indelével, enquanto se permitir e vida sadia houver.
           A guisa de informação, os gênios da humanidade, tais como: Albert Einstein, Amadeus Mozart, Isaac Newton, utilizaram cerca de 8% do intelecto armazenado na “casa do almoxarifado particular”, a “mimora”, no dizer de um matuto, na obra do imortal e erudito, Guimarães Rosa, ou do simples e sonoro Realino que reencontrou seu refúgio, junto à Marina.  Agora, ainda inspirado em Rosa, ouso afirmar que eles “se encantaram”.

música de lavrador arando poesia
        “O Realino é homem de sete instrumentos”! Dizia Marina, seu “ninho”. A família, seu refúgio. Fez instrumento, olha o cavaquinho! Fez a Marcha Moedense, música de lavrador arando poesia e foi tocando em frente... Na menina de meus olhos de criança, raios luminosos lhe seguiam fascinado. Às vezes, lhe via fitando pro ar, mirando o nada... Sobranceiro olhar, feito pomba avoante querendo arribar... Essa vontade chegou de mansinho e sem agonia. Tarde, “muitos anos voaram no tempo apressado”, no peito de quem ficou sentiu dor. As “andorinhas voltaram ao velho ninho”. Agora, Realino e Marina, pra sempre unidos, nas asas da Paz do Senhor.    
          De onde está minha mãe, essa, insiste em me fazer lembrar, através de e-mails, inter-via-láctea que, não devo me esquecer de fazer “o jogo do contente”. Ser persistente, em busca dessa tal felicidade, cuja chave e semente está “inside me”. Quem sabe? Permita-me continuar, a guardar semente, em paiol imenso? Gratuita memória que humaniza e harmoniza, meu simples existir? Ecos da minha feliz e velha infância, me fazem recordar de outras tantas palavras sábias, dessa mulher que pacientemente, me aninhou em seu útero, por nove meses, me amou intensamente e de quem não tenho saudade mais...
          Assustei você, leitor? Calma, esse “rio” de dúvidas vai espraiar. A nostalgia que me permite, só suave lembrança foi abarcada, pelo amor que suguei de seu peito e me alimentou a afortunada infância, criou raízes em mim e ainda circula em minhas veias abertas. Vaza meu coração e faz correnteza em todo meu ser. Tem sua origem, na memória que momento algum, deixa-me, esquecer de Marina: mãe, amada, amiga, professora, cúmplice, incentivadora. Meu sucesso como homem de pé e não, cobra rastejante, comedor da poeira de meu caminhar, todo o crédito é dela, vaso feminino do amor perpassado aos oito filhos gerados. Cada um, com seu bom bocado, cada qual com seu quinhão, na comunhão do amor em pedaços, de igual e imensurável dom.
O exercício da memória carece de ser constante, “Halteres mental”, ”Pilates cerebral”, pouco importa a nomenclatura, necessário é praticar. Ainda, do gênio de Einstein, a frase: ”Depois que uma mente se expande, nunca mais será a mesma”. Definitivamente, não tenho baliza, para inquirir o funcionamento e a fisiologia da mente humana. Todavia, a intuição que me guia, em madrugadas mergulhadas, no silêncio dessa casa plantada em sítio tranqüilo, me permite refletir que estou caminhando na direção certa, no sentido e meta, do segredo, do secreto, do sagrado que habita meu interno. A luz que o Criador permitiu ser, através da união de Realino e Marina que na Terra, não estão mais, mesmo assim continuam VIVOS, meus pais, eternizados na mina pródiga, a minha singular MIMORA.

 Faladaspedras, Kobuburgo
 16/11/2011
PS_ Não existem coincidências e nem por acaso. Escrevi esse texto justo no momento que refletia o positivismo e o caráter reto de meu pai. Em outra oportunidade, cabe dizer mais...
A data, sem prévio acordo é a mesma na qual renasceu há sete anos. “Eu nem sonhava te amar desse jeito”...  Dedico essas palavras acima a todos que interessar possa, de nossa família e afins.
Fernando Antônio Linhares de Araújo

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