Tropel e açoite
Certa noite,
aquela em que nossos beijos desfibrinaram qual leve chicote, a pele excitada e
nos acendeu como archote, afastando o frio que insistia em congelar a entrega
em domicílio e voluntária, de duas almas em estágio de reconhecimento e
acasalamento... Quero lhe recordar que:
Sombras e dúvidas desanuviaram-se, impulsionadas pelo signo do fogo que
também aqueceu nossos corpos inermes, sob risco iminente de fusão. Liberando a
mesma energia, contida em destemperados e frágeis vasos, a poucos passos do
paraíso. O frenesi da tentação cedeu ao seu sutil e sensual apelo preliminar. O
lenço branco da paz cantou vitória ante o vermelho carmim de seus lábios
carnudos e a volúpia da paixão. Nada fácil transpor tão íngremes obstáculos. Você
dizia para não rompermos a promessa de não fazer valer a carne. Todavia, não se
continha na tarefa árdua e sem pressa de saborear o gozo da intimidade
desfrutada em um simples e intenso roçar, de pele sobre pele. ”Saia justa”
sobreposta em homem macho; falo ereto, respeitando a queda de seu ardente
desejo. Pêlos eriçados, corações dilatados, sangue circulando como carro de
Fórmula Um, alucinado. No compasso de um galope ou tropel de uma fêmea no cio e
seu vigoroso corcel.
Reconheço que extrapolo e ultrapasso o senso e a razão, mas o coração
tem as suas... Desconheço aquele que ama e não se enamora dos eflúvios da lua
soberana em céu coalhado de estrelas. Poesia indisfarçada, sensibilidade aflorada,
romantismo exacerbado, tenho um pouco de tudo isso em mim. Folgo em saber que
por seus atos, percebi que também é assim.
Aquele seu cheiro, agridoce e seco, herança
olfativa do baú de noite abençoada, guardei um pote cheio, aqui dentro. Encerrado
sob cimento, selado e vedado até o momento, hibernando em caverna escondida em
meu cérebro, sob pena de volatizar segredos e mistérios que a língua solta
teima em falar. Calma!Mulher!
Você é minha inspiração, destilação fracionada do oxigênio de todos esses
últimos e intensos vívidos dias! Hoje eu abuso das licenças poéticas, nas quais
é musa.
Agora, fecho
os olhos, viajo no tempo e por um hiato, um momento, mergulho em seus braços. Entre
beijos, sussurros, gemidos e abraços, atinjo o pico, meu Nepal. Você é a montanha,
o desafio, vento suave de um amanhecer colorido. Repito o gesto, noites a fio,
alimentando a solidão, com a luz da madrugada que me extasiou com seu brilho:
VOCÊ!
Ah! Mulher!
Recém descoberta, entre lençóis desfeitos, de um novo mundo. Um belo horizonte
entre monte recôndito. Um navegador solitário encontra seu porto seguro. Assim desenhei
no fundo da alma e agora com calma, registro qual documento cartorial. Quero
perpetuar na memória, emoção e sentimento. Transmitir sob testamento firmado,
esse hábil legado, a mim mesmo, usufrutuário até o limite de meu tempo, aqui, nesse
planeta ainda azul.
Faladaspedras recupera a memória de uma noite singular e inesquecível pro coração sensível.
Alvorecer do ano de 2011, breve relato de um universo e seu big-bang de emoções!
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