domingo, 11 de novembro de 2012

AO SÊO DOTÔ DO COPÂO - PEDIDO DE SOCORRO

Prezado leitor,
hoje inteira sete anos que esse documento foi entregue em mãos, ao presidente do Copam, dr. Shelley Carneiro, em reunião itinerante na cidade de Àguas Vermelhas, norte de Minas que dista 750 km de nossa Gouveia. Fomos até lá em companhia da dra. Meire Almeida, à época, conselheira daquele colegiado e incentivadora da legalização ambiental, além da geração de renda àquelas 120 famílias da comunidade do Engenho da Bilía, em nosso município. Após a defesa da conselheira em prol da liberação das atividades na jazida de quartzito foi entregue a carta escrita a pedido de um líder trabalhador, sem alfabetização.
O presidente e engenheiro senior qualificado, mas sensível às questões humanas deferiu uma moção conjunta e unânime do Conselho paritário, no sentido de liberar as atividades na pedreira, paralisadas por força compulsória e imediata de auto de infração, até que se sanassem os impeditivos de normas legais.
Infelizmente, não logrou êxito tal ação de resgate da cidadania através do trabalho. Continuam na ilegalidade, os trabalhadores e aqueles poucos que ainda continuam explorando a pedreira para sustento familiar são ameaçados constantemente e assim fogem da polícia ambiental como se marginais fossem. A empresa AEG, titular do direito de lavra e a Coopita- Cooperativa de Pedras, jazem inativas e sujeitas às decisões jurídico-administrativas da Supram- Jequitinhonha. Desde aquela data, (2005) agarradas à teia burocrática que impede a solução de continuidade em benefício do trabalhador em seu habitat, como preconiza a Carta Magna em seu capítulo ambiental. Sendo a Constituição Federal, o fulcro de onde emanam todas as leis, como ficam as ações participativas do desenvolvimento sustentável, por parte das autoridades, no que tange ao principal ator social: o povo?
Gouveia, 09 de Novembro de 2012




Pedido de socorro

            Ao seu dotô do COPÃO.
Meu nome é Gabriel e trabalho no Engenho da Raquel. Desculpe meu jeito de falá. Sô home simpre. Nasci e fui criado nas roça. Meu pai e minha mãe criô 15 fio.
Meu pai curô muitas pessoa com as raiz da serra. Até as pessoa de  muita importança que tão bem viva até hoje. A infança minha e de meus irmão foi de muito sufrimento no mesmo Engenho. Quando nós tinha o armoço pra cume não tinha o caderno e lápis pra escola. Quando tinha caderno faltava rôpa e chinelo de sola de pineu.
Depois dos meu seti ano, nóis mudemo pro  Poço Fundo.Quer dizê de poço fundo só ficô o nomi. Tudo em vorta era campo e pedra e muita secura.
Região de lapero de campo seco.
Seu dotô e compitente auturidade ficamu sabendo de sua capacidade de intendê o coração do home trabalhadô da pedra ou da cidade.
Seu nome é difirci pra eu de pouco istudo escrevê.
Sou home sufrido de coração duido que os home da medicina já condenô. Graças a Deus tô sempre dando minhas risada. Pra quê chorá se não adianta de nada. Não tenho INSS. Sou do sindicato rural. Farta dez anos pra aposentá. Só tem a pedrera pra eu sustentá meus fio. Já tem sete ano que eu tô lá. Antes trabaiava com dente de cão, perto da pedra minera. Lá provocou uma grande erosão. Tapou os córrego do Engenho tudo. Hoje a sarvação da nossa região seu dotô de autoridade ta sendo a boa vontade do dono da pesquisa que deixa nóis tira pedra pra ganhá os trocado e dá ele uma menor parte.
Eu não posso mais usá os braço pra ganhá meu pão como sempre fiz. O dono do terreno permitiu eu colocá dois fio meu trabaiando. Eu vou ideano o silviço delis. Já tem dois ano que vivo assim. Tenho uma renda. Tenho o trabalho de cabeça e tô feliz.
Quer dizê tava feliz. Por que três fio de Deus da polícia florestá fechô tem dois mês a nossa mina de sustento. Só onde trabaio é sessenta home qui tão de braço cruzado. Fazê o quê, se na região só tem pedra. Não tem terreno bão.
Já fui pra São Paulo faze buraco no chão. Pra fincar poste. Fazê rede de esgoto botando a mão na merda de gente humana. Ganhava muito menos do que ganho agora. Sem usá meus braço que era forte. O trabaio na pedra é minha salvação. É perto da minha casa. Todo dia vorto pra minha famía. Faço minhas oração. Tinha o trabalho dia seguinte. Amanhecia como os passarinho. Rindo e com alegria ia caminhando pru silvirço.
Eles da florestal tem carro bonito. Nós temo o chinelão de sola de pineu. Chegaro dizendo que é uma denúnça pra apuração. Cês tão tudo dispensado. É a paralisação. Todo mundo si assustô. Parecia ave de arribação. Nóis vortô pra casa triste, mucho. Caminhando. Pois não temo carro. Pra lá vortá. Não somo anjo que tem asa pra voá. Somo comedô de feijão. Sofredô. Pelejando nessa terra de muita pedra. Sol quente no lombo e água pôca que trazemo de casa pra bebê no silviço.
Eu dependo pra vivê a custa de remédio. Parô a pedrera, cabô o dinheiro. Fico sem intendê. Seu dotô de autoridade. Será que eu vô sê pricisu marcá horas mais cedo com a morte?
A polícia prende e arrebenta, só no tempo dum tal de Figueiredo. Agora me dá medo de dá repetição.
Seu doto do COPÃO homi de boa vontade. Será que é verdade. Que a polícia tem  capacidade de decidí a vida de nós tudo? Será que eles tem istudo igual do sinhô? Compitente doto nas lei da tiração das pedra?
Fico sem intendê seu dotô da autoridade. Por que essas lapa criada por Deus nosso Senhor incomoda tanto a florestá? Pedra não é gente. Pedra não dá semente. Não cresce, não morre nunca. Pra que tanta vigiação? Lá não tem mato. Num tem pasto. Num tem água corrente. Muito menos uma nascente. Também não tem jeito de causar erosão. Igual na pedra de dente de cão. Primero não tem terra pra chuva leva, no meio das pedra minera. Depois é tudo prano. Será que a polícia não sabe o que qui é águas vertenti?
Será que num era mio alguém do meio ambienti orientá a gente? Virificá o qui tá errado? Aguarda o tempo de cunserto pra depois a policia fecha e murtá?
A polícia chegô di repente trôxe esti presente de feliz natal. Pra nóis tudo us trabaiadô.
Os treis rei mago fizero diferente, pro Minino Jesus. Tão fazendo até hoje pra eu também. Porque nas folia de rei que nus dia de hoje eu vô é como qui o meu tempo de criança vórta ôtra veiz!
E agora, seu dotô de autoridade tô sabendo que o sinhô é home de sensibilidade. Apelo pro seu coração. Resorva nossa situação. Tamo passando fome. Alguns cumpanhero bebendo seu desespero nas garrafa de pinga. A situação é de calamidade. Em nome de Deus, dos treis rei mago. De nossa Senhora. Peço sua caridade. Oie por nóis.
Tira por favô esta paralização de cima de nossas cabeça. Dá o direito de nóis drumi sono justo. Dá o direito do trabaio. Dá o direito de cidadão. Dá pra nós o nosso pão. Que eu possa ter um dinheirinho pra pagar a dentadura. Que a gengiva tá uma lisura e os dente já caiu de podre. Dá aos nosso fio, a esperança de comprá lápis e caderno pro ano que vem.

E pro sinhor, muita paz e um feliz natal. Que Deus permita que o sinhô dê pra nós este presente real de um feliz natal.
Queremo e precisamo de vortá ao trabalho. Muito agradicido pela sua atenção.
Que Deus abençoe sua decisão.

Seu criado.

                          Assinatura do trabalhador

Gouveia, 9 de Novembro de 2005

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