sexta-feira, 9 de agosto de 2013

“CONSTRUCTIO HOMINIS, CONSTRUCTIO LAPIDUM".



“CONSTRUCTIO HOMINIS, CONSTRUCTIO LAPIDUM".

 No labor da pedra, sob o suor do rosto, a dignidade aflora, no trabalho da construção do ser social e seu ATOR PRINCIPAL.

“O ESPINHO É A FLOR NEGRA QUILOMBOLA

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COOPITA - e-mail –bomdiajequitinhonha@yahoo.com.br

Um dos sonhos sonhados, ( todo dia monto cenário e palco para realizar meus sonhos) é criar um espaço cidadão no pátio de pedras da Coopita, por nós idealizada que reúna a fina flor dos “from below” (a ralé gouveiana), onde talentos múltiplos emergem pelas mãos criativas de homens e mulheres. Por questões socioeconômicas a etnia desses seres tem a matiz da raça negra da Mãe África.
Lembro agora, letra da música João Bosco que ensina assim: Liberdade, liberdade! Abra as asas sobre nós (bis) E que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz. É dessa maneira que penso em conviver, na prática da fraternidade e tolerância aos irmãos, filhos e descendentes  de Mama África  que, felizmente inundam o DNA de Gouveia, com sua fértil criatividade.
Com hipocrisia, algum habitante dessa urbe tem o olhar da soberbia, “de cima para baixo”, tal qual agiam os senhores feudais quando se aproximava de seus altos muros de pedra, um andarilho em andrajos, ou mesmo um mendigo leproso. Digo isso, porque tenho uma fina sintonia, física e de coração, aos homens e mulheres da raça negra. Em especial, minha sensibilidade e subjetividade se aguçam, quando em contato com o corpo e a alma daquele povo do Espinho, (reminiscência quilombola) “lócus” e cultura que fundamentou tese de doutorado em Antropologia de uma cientista social da UNB (Universidade Nacional de Brasília).
Mais de uma vez tenho atitudes de Dom Quixote a defender de fantasmas, os irmãozinhos menos aquinhoados ante a corja dos nascidos em berço de ouro, ou que assim se consideram superiores, no estrato da pirâmide social, aqui estabelecida.
Resquício sórdido do pretérito, desde o tempo em que esta região foi estigmatizada por relações servis degradantes e mesmo de escravização. Considero que o principal preconceito, não é relativo à cor da pele, sim, subordinado à condição evidente que a maioria daquela raça desafia em seu viver: sem-teto, sem-terra, sem emprego, sem a educação formal. Parodiando Euclides da Cunha, esse homem negro, da cidade, ou sertanejo é antes de tudo um forte.

A respeito do recém criado, “Feriado da CONSCIÊNCIA NEGRA”! (Há cor na consciência?)...                      Despido de rótulos, mais ainda preconceituosos que vestem a nudez escancarada da miséria sócio educacional de nosso povo, independente da raça, sugiro: Deixar de ser um dia cravado no pé do calendário e passar a ser durante o ano todo, um jardim da infância da convivência cidadã, onde possamos permutar flores da experiência de cada um. Permitir-nos, construir uma ponte para dialogar com o outro. Como a criança que dá sua mão, despreocupada com a cor da pele, da mão que a une à roda de ciranda. .Sem medo de ser feliz. Ser criança é simples assim... “

Esse documento acima foi impresso e distribuído, ao término da atividade inclusa no, 45 Festival de Inverno da UFMG sediado em Diamantina, entre 22 a 27 de Julho de 2013, em parceria com a UFVJM e Prefeitura Municipal de Diamantina - MG.
Essa atividade, na qual participamos, nominada de "Oralituras Quilombolas", coordenada pela historiadora Márcia Betânia de Oliveira Horta, com uma carga horária de 20 horas, além de visitas de campo e vivências , junto à comunidades quilombolas, daquela cidade diamante. Com reconhecimento da instituição federal, Fundação Palmares, órgão regulador e tutelar desse importante ativo étnico cultural, patrimônio imaterial de  uma parcela significativa do estrato social de nosso povo, miscigenado com forte herança de raízes da ancestralidade africana.
 Dentre todos os participantes do evento (Educadores, antropólogos, historiadores, doutores, mestres, discentes acadêmicos e diversos seres de seus populares saberes) que quiseram se manifestar queremos distinguir, a jovem estudante da UFMG Gracia Wanatu, de honrosa e simples  presença, bem nascida na República  Democrática do Congo (África Oriental), também quero registrar a marcante empatia de Alâne Quadros, aluna da UFVMJ, mineira de Felixlândia. Da mesma forma, o destaque discreto, interativo e lúcido da educadora, Lucí Lobato, dedicada docente, na Capital das Alterosas.
Naquele momento de encerramento de fértil sementeiro, nós, em nome da COOPITA- Cooperativa dos Extratores de Pedras da Serra do Espinhaço Limitada. Fundada em 12/09/2005, com registro na OCEMG, número 1777, nós explanamos um pouco e com mostras do artesanato autóctone, o vivenciar empírico , na coexistência praticada dia após dia, durante longos anos, com os trabalhadores extrativistas minerais que agregam renda às suas famílias. "Laborando a Pedra e Construindo o Homem", se transformaram sobreviventes, emergentes, no entorno da jazida e que são também quilombolas, alocados em área rural de Gouveia - MG. Cuja historiografia remonta ao espaço tempo, no qual, pertenceu à Diamantina (Arraial do Tijuco), na condição de importante distrito diamantino. Sob a jurisdição da Corte Portuguesa, entre os séculos XVIII e XIX.
 Tempo este, infeliz e suficiente, pra macular pra sempre, aquele hostilizado e bestializado homem, cativo e degradado, filho da Mãe África. No então, distrito da pedra cobiçada; muitas vidas, sangue espalhado e a dor, qual espinho transplantado, em ornamento  de ouro e diamante. Nas  cabeças coroadas e incensadas, de brilho fausto e falso, de reis e rainhas, da velha, decadente e aristocrática Europa!

Gouveia 06/08/13
Fernando Linhares
Idealizador e fundador da COOPITA, unido em solidariedade, a 22 sócios trabalhadores na extração da rocha quartzito.
Atualmente está, presidente da Cooperativa de Pedras- Coopita.






Foto I: Cenas de “casa grande & senzala", onde mucamas e escravos serviam cativos aos seus donos. Às crias, negras na cor, (no plano inferior) só, sobras e migalhas!                                     Pintura de Jean Baptiste Debret, século XIX

Foto II: A beleza e sensualidade mulata, imortalizada na tela de Di Cavalcanti. Resultante direta do impacto ambiental positivo, no cruzamento carnal da opressão branca e a sujeição negra. Tudo isto, emoldurado em cenário de grande beleza cênica e no palco, atores cínicos!         Cena paradisíaca locada, na geografia tropical da Baía de Todos os Santos e também na da Guanabara, redutos de grande concentração de escravos. (machos e fêmeas, à época, se nomeava .Mais tarde e adiante, em gerações posteriores, o maior percentual de negros, do genoma brasileiro.
À época, a católica igreja apostólica e hegemônica dizia que "não existia pecado do lado debaixo do Equador”.  Por quê?  Simples assim: debaixo dos lençóis de alvo cetim, os brancos copulavam com as mucamas negras que," sabia-se, não tinham Alma"! (Mais um grotesco e absurdo paradoxo da santa inquisição, da outrora “santa madre igreja”).




Foto III: O Engenho, (comunidade rural de Gouveia) é de mesma raiz africana, assim como o Espinho, o é: a flor negra quilombola!

               “TIRANDO LEITE DAS PEDRAS”- “Ipsis litteris”, (ao pé da letra). Melhor, sob os pés a caneta (alavanca de quem ainda o era, até então, analfabeto, sem inserção social, sem dignidade, carente de cidadania!  Ao longo do tempo e “a posteriori”, os netos já alcançaram diploma superior, de engenheiro, pedagogo e educador. Tudo isso,através do labor de homens e mulheres, dedicados e fortes sertanejos que construíram com amor aos seus descendentes, pontes e não muros, sob a matriz da pedra entalhada.





O tempo é fugaz, ele foge entre nossos dedos. Fluíram, trinta e três anos, parece que foi ontem! E foi tudo num zás de segundo!



www.falasdaspedras.blogspot.com

Kobuburgo, IX de Augusti,  anno gracie MMXIII.


 




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