terça-feira, 20 de agosto de 2013

Bem vinda flor LiIi,beija flor no Jardim Divino





Cavaquinho de permeio ao violão



Cavucar raiz de palavra me causa prazerosa fascinação. Catuto com pau e pedra, fértil terra, árvore boa, fruto, flor e semente. Quando em vez, me pego em vazio cismar, sensível tremor de sismo. Tô cheio do nada, tô dentro de mim. O tambor do peito vibra, na força da coragem e canta o encanto do som de certa palavra. É pequeno trovão, eco de luz: é Lúcio e vem da raiz e brilho de afinado coração. É cavaquinho de permeio ao violão.
Vez em quando, a flauta doce da curiosidade me sopra o ouvido: e vem de donde, Eliana?...
 Tem “DÒ, di eu” – cabeça gulosa de sabê! RÉcorro à minha MÌmora que FÁz “forró número um”. Ah! Essa minha memória, “sanfona velha do fole furado, SÓL faz fum, só faz fum”!
Faz LÁ bom tempo! SÍ bem relembro o broto cor de rosa, Eliana Maria, vestia azul plissê, peito liso e reto, sob blusa de branco engomado. Fichário preto abraçado sobre os seios. Estes, mudos hibernando aos quinze anos. Surdos ao reboliço de adolescentes hormônios. Vem descendo a Carangola, a menina charmosa, de fita rosa no cabelo. Acabou a aula no Aplicação. Chegou a casa esbaforida. Com um sorriso abriu a porta. Dois passos e cantarola. Acompanha um violão dedilhado por sensíveis mãos. Mesmo ainda, o som do acordeão. Sempre, a voz de qualidade no timbre. Vinha fazendo harmonia em corpo de música. Transmitindo paz, alegria a si, aos cinco irmãos, às duas irmãs, também Marias. Filial escada, igual escala musical de numeral sete. Notável talento da maduração de Marina e Realino. Afinado compasso da platéia, refestelada no aconchego da família. Felicidade a baixo custo. Não alcança mais nosso desejo, a distância que o tempo deixou acontecer. Lembrança esmaecida e fugaz.
Do retrato em branco e preto, no baú de memórias que guardo a sete chaves em meu peito, revela-se constante, o sorriso irradiante. Entre duas brilhantes, pérolas castanhas, emolduradas por anelados cabelos longos em sua bela face. Não é tradição traduzir com tamanha dimensão do imperfeito. Tradução direita sei que não. Porém, Eliana, para este irmão canhoto, afeiçoado e ousado, que coloca sonhos em caixa de presente ,qual chocolate da Garôto e os dá docemente. Seu prenome, Eliana, transcende o verbete do Aurélio. É como som de violino entremeado ao ritmo de um tambor – fuga nascida no porão da minha infância de arte, imaginação e magia – polifonia bem casada com sua risada. Vozes, canção, ascendem ao meu consciente. Faz-me rever seu suave sorriso. Aquele que enfrentou e superou desafios. E é o mesmo! Desde as primeiras pautas aprimoradas, ainda pupila da professora Francisquinha, no teclado do piano. O que encanta é que ele traz mais belo, o que vem de seu interno. Enfeita os meus olhos que mantêm a vivacidade, passado o dobrado do tempo.
Agrada ao meu ouvir, o bem recordar. Registro nesta caixa de eco que em mi’mora. Memória zela com mimo raro, a melodia que inspira a satisfação dos sons, sucessivos e ressonantes. Meu coração é um corpo sonoro que vibra, toda vez que torno à minha meninice impregnada de canto e música da irmã madrinha. Sabor e cheiro é coisa boa. Também vale lembrar. Donzefina Rosa, flor morena sem espinho. Mãe, cozinheira de fogão à lenha. Maestrina na regência das filhas, na ausência da pública funcionária, dedicada em exagero, Marina.
Quero voltar ao presente. Ainda ontem, na casa de Eliana, eu ficava. A harmonia se espelha na arquitetura dos sólidos. Salas, quartos, banhos, bem arejados, limpos, asseados. Tons claros dão lucidez ao projeto. Pedras são o toque, na tradução simples e perene do mestre tempo que não cessa de clarear, em seu ritmo perpétuo: o rio da vida inunda e  transcende, a fria mortalha,frio concreto, cela de cimento. É quando somos semente, na terra plantada e na estação primavera eterna, colher a florada de próprio plantio...

Éh! Eliana, mãe, madrinha e mana, um passarinho me contou que a boa brisa te levou pra entoar sua linda voz, espalhar seu encanto, entre luzes brandas e músicas suaves, nos campos elísios, morada dos justos de alma encantada. Lá, onde flores renascem em eterno reciclar, lá onde o laço do passarinheiro, não mais lhe alcançará. Pois, sob as asas do Altíssimo, você se abrigará. Lá, onde fez eterna morada, o Realino e seu réfugio, sua  musa, Marina amada.
 Ambos entoam hinos, irmanados em uníssono, no coral de anjos.  São cânticos de música celestial, à homenagem de sua recém chegada presença.
Coroando, sob a luz do sol que nunca passou e no brilho coalhado de estrelas, o seu renascer.
Seu ser, Eliana, é nominado por Marina: a sempre viva criança, a singular menina, flor Lili,flor mosura!
Você se transmutou, sob a luz lilás do amor vivido. Agora é Lili Maria Passarim! Beija flor a polinizar a todos que tivemos o privilégio de conviver, com seu ser, esse poço de candura, anjo tutelar.
Por que hoje, “eu sei que vou te amar. Por toda a minha vida eu vou te amar”...

ELIANA MARIA LINHARES DE ARAÚJO
Nasceu em 12 de Setembro de 1945
Renasceu em 17 de Agosto de 2013


Registro do contentamento no viver terreno.
Em primeiro plano,
Marina, Eliana e à esquerda, Realino.
O cravo e duas de suas mui belas rosas
Agora, a glória de renascer em Champs-Élysées 
e serem, eterna florada no Jardim Divino
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