Cavaquinho de permeio ao violão
Cavucar raiz de palavra me causa
prazerosa fascinação. Catuto com pau e pedra, fértil terra, árvore boa, fruto, flor
e semente. Quando em vez, me pego em vazio cismar, sensível tremor de sismo. Tô
cheio do nada, tô dentro de mim. O tambor do peito vibra, na força da coragem e
canta o encanto do som de certa palavra. É pequeno trovão, eco de luz: é Lúcio
e vem da raiz e brilho de afinado coração. É cavaquinho de permeio ao violão.
Vez em quando, a flauta doce da
curiosidade me sopra o ouvido: e vem de donde, Eliana?...
Tem “DÒ, di eu” – cabeça gulosa de sabê!
RÉcorro à minha MÌmora que FÁz “forró número um”. Ah! Essa minha memória, “sanfona
velha do fole furado, SÓL faz fum, só faz fum”!
Faz LÁ bom tempo! SÍ bem relembro
o broto cor de rosa, Eliana Maria, vestia azul plissê, peito liso e reto, sob blusa
de branco engomado. Fichário preto abraçado sobre os seios. Estes, mudos
hibernando aos quinze anos. Surdos ao reboliço de adolescentes hormônios. Vem
descendo a Carangola, a menina charmosa, de fita rosa no cabelo. Acabou a aula
no Aplicação. Chegou a casa esbaforida. Com um sorriso abriu a porta. Dois
passos e cantarola. Acompanha um violão dedilhado por sensíveis mãos. Mesmo
ainda, o som do acordeão. Sempre, a voz de qualidade no timbre. Vinha fazendo
harmonia em corpo de música. Transmitindo paz, alegria a si, aos cinco irmãos,
às duas irmãs, também Marias. Filial escada, igual escala musical de numeral
sete. Notável talento da maduração de Marina e Realino. Afinado compasso da
platéia, refestelada no aconchego da família. Felicidade a baixo custo. Não
alcança mais nosso desejo, a distância que o tempo deixou acontecer. Lembrança
esmaecida e fugaz.
Do retrato em branco e preto, no
baú de memórias que guardo a sete chaves em meu peito, revela-se constante, o
sorriso irradiante. Entre duas brilhantes, pérolas castanhas, emolduradas por
anelados cabelos longos em sua bela face. Não é tradição traduzir com tamanha
dimensão do imperfeito. Tradução direita sei que não. Porém, Eliana, para este
irmão canhoto, afeiçoado e ousado, que coloca sonhos em caixa de presente ,qual
chocolate da Garôto e os dá docemente. Seu prenome, Eliana, transcende o
verbete do Aurélio. É como som de violino entremeado ao ritmo de um tambor –
fuga nascida no porão da minha infância de arte, imaginação e magia – polifonia
bem casada com sua risada. Vozes, canção, ascendem ao meu consciente. Faz-me
rever seu suave sorriso. Aquele que enfrentou e superou desafios. E é o mesmo!
Desde as primeiras pautas aprimoradas, ainda pupila da professora
Francisquinha, no teclado do piano. O que encanta é que ele traz mais belo, o
que vem de seu interno. Enfeita os meus olhos que mantêm a vivacidade, passado
o dobrado do tempo.
Agrada ao meu ouvir, o bem
recordar. Registro nesta caixa de eco que em mi’mora. Memória zela com mimo
raro, a melodia que inspira a satisfação dos sons, sucessivos e ressonantes.
Meu coração é um corpo sonoro que vibra, toda vez que torno à minha meninice
impregnada de canto e música da irmã madrinha. Sabor e cheiro é coisa boa.
Também vale lembrar. Donzefina Rosa, flor morena sem espinho. Mãe, cozinheira
de fogão à lenha. Maestrina na regência das filhas, na ausência da pública
funcionária, dedicada em exagero, Marina.
Quero voltar ao presente. Ainda
ontem, na casa de Eliana, eu ficava. A harmonia se espelha na arquitetura dos
sólidos. Salas, quartos, banhos, bem arejados, limpos, asseados. Tons claros
dão lucidez ao projeto. Pedras são o toque, na tradução simples e perene do
mestre tempo que não cessa de clarear, em seu ritmo perpétuo: o rio da vida
inunda e transcende, a fria mortalha,frio
concreto, cela de cimento. É quando somos semente, na terra plantada e na
estação primavera eterna, colher a florada de próprio plantio...
Éh! Eliana, mãe, madrinha e
mana, um passarinho me contou que a boa brisa te levou pra entoar sua linda
voz, espalhar seu encanto, entre luzes brandas e músicas suaves, nos campos elísios,
morada dos justos de alma encantada. Lá, onde flores renascem em eterno
reciclar, lá onde o laço do passarinheiro, não mais lhe alcançará. Pois, sob as
asas do Altíssimo, você se abrigará. Lá, onde fez eterna morada, o Realino e
seu réfugio, sua musa, Marina amada.
Ambos entoam hinos, irmanados em uníssono, no
coral de anjos. São cânticos de música
celestial, à homenagem de sua recém chegada presença.
Coroando, sob a luz do sol que
nunca passou e no brilho coalhado de estrelas, o seu renascer.
Seu ser, Eliana, é nominado por
Marina: a sempre viva criança, a singular menina, flor Lili,flor mosura!
Você se transmutou, sob a luz
lilás do amor vivido. Agora é Lili Maria Passarim! Beija flor a polinizar a
todos que tivemos o privilégio de conviver, com seu ser, esse poço de candura, anjo
tutelar.
Por que hoje, “eu sei que vou te
amar. Por toda a minha vida eu vou te amar”...
ELIANA MARIA LINHARES DE ARAÚJO
Nasceu em 12 de Setembro de 1945
Renasceu em 17 de Agosto de 2013
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