UM CONTO DE REIS
Na história bíblica, os magos
astrônomos vieram até Belém, visitar Um Recém Nascido, montados em ondas
sinuosas nas corcovas de camelos e guiados pela luz de uma estrela Unigênita.
Investiram doze dias, saindo de um ponto no mapa africano conhecido como Congo.
Partiram em direção ao Menino Rei, que sabiam, acabara de nascer. Uma aventura
digna de um Indiana Jones. Dormiam e descansavam de dia, sob o sol escaldante
do Saara. À noite, viajavam sob luz clara, quando a lua os visitava e também
aquela Luz que passou a se chamar Jesus,há muito anunciado. O destino traçado
em suas cartas de navegadores exímios, nas dunas do deserto, foi finalmente
alcançado.
Dia seis de janeiro é o marco da
homenagem dos magos ao Filho de Deus. Trouxeram presentes de grande significado
para a humanidade, a reverência àquela Criança Galante. A presença do Amor na
Terra, o Verbo se fez Carne e Habitou entre nós, cuja data de nascimento para
os cristãos é de vinte e cinco de Dezembro, do primeiro ano de uma nova era.
Nesse Natal, no caminho das
pedras que resolvi trilhar e viver a vida que me traz felicidade, o inusitado
aconteceu. Três importantes personagens vieram, de também longe, visitar um
recém chegado à maturidade, um rei sem reinado e sem coroa. (Duplo sentido
positivo, registre-se). De montaria folgada pra todos, um só corcel, negro.
Olhos bem claros, quatro patas velozes e redondas, carro ágil. Um Peugeot com a
força de leão que transporta mitsu bishi. (três diamantes, pra mim, eternos).
Chegaram à mesma luz do dia que
partiram de um ponto no mapa das Minas Gerais, conhecido como Belô. Não
precisaram de computador de bordo e nem GPS, para traçar a rota da aventura de
volta às origens. Tempos modernos, rapidez e tecnologia, alguns anos, pós
Chaplin e sua magia. Carlitos, adorável vagabundo, encantava o mundo com sua
luz na ribalta. Mesmo quando não se ouvia o que se passava, pois era mudo o
cinema daquela etapa. Investiram parcas horas, depois que partiram em direção ao
homem que deu ser à trinca de reis, insigne ficantes nessa gleba. Plantou a
semente em fecunda terra, tanto que germinou. O presente apresenta a leitura da
boa árvore que produz bons frutos e não abrolhos. Deixa exposta a felicidade da
raiz que fica melhor quanto mais envelhece. Trouxeram as presenças que
iluminaram a alma do rei sem coroa, o véio, de coração de criança. Sensível,
sentiu o verdadeiro espírito de Natal, penetrar em si, como toque de sinos,
barroco, a contradição dos presentes imateriais. Música em tom de amor, afeto e
carinho, invadiu o peito e os domínios, daquele que balizou limites e com
exemplos, mostrou atitudes a serem perseveradas. Uma lágrima alegre escondeu-se
em si mesmo, emocionado com o resultado da semeadura daquelas três infâncias
que o tempo e os bons ventos souberam transformar, no aqui e agora, esse Natal,
num oásis. Um hiato de luz e paz, consoante espiritual, amálgama de afeto,
bálsamo de carinho, ponte de amor. Alquimia mais que correta, para aliviar a
travessia do deserto que a vida me levou a enfrentar, quando desmoronou nosso
lar. Um muro nasceu construído qual solitária para que sem escolha, usasse-a
como abrigo.
Filhos, fiz e farei mais
isso,toda vez que meu coração quiser falar com Deus e quem eu achar que mereça me
inspirar.Agradeço a vocês pela presença, como trama indelével e imprescindível
costurada no enredo de meu peito, por três fios fortes, brilhantes e
valentes.Quando estiverem lá longe,na rotina da vida embrulhada na cortina de
fumaça da metrópole, lembrem-se do que sempre digo, que sou próspero sem ser
rico. Sou feliz, pois tenho o tesouro da juventude em mim. Pude perceber, na
boa ventura de acalentar em minhas mãos, os mais belos diamantes que já vi, uma
nonada de meu próprio brilho. Vocês são a ramada, a resposta pro futuro, do
liame, do radical da minha história. Meu ramadã sagrado que percorre todo o
ciclo, entre o alvorecer e o por do sol da minha existência de profano. Sem o
jejum e o jeito de ser muçulmano.
Humano algum consegue avaliar tão
rico patrimônio. Maior que mil, melhor que um milhão de vezes um conto de réis,
dinheiro graúdo no tempo em que o vô Realino,
andava de calças curtas,menino miúdo,na sua Moeda. Mais
tarde, encontrou na Capital, o cabedal. Sua bela, cara e coroa, jóia rara,
Marina.
Esse condão
de escrever permite que eu faço um conto de reis, da narrativa da visita
especial dos três em minha morada, entre as pedras, é meu caminho. Fez lembrar
o tempo de semear, bem longe, plantado em minha memória. É uma história que
contém o resgate da amizade, do respeito, da humildade. Valores carentes em
diversas famílias, esquecidas que o Natal é para ser vivenciado todo os dias,
pois que simboliza a presença do Menino Deus dentro de nós.
Filhos, faço e farei esse desabafo,
toda vez que eu quero esse diálogo cara a cara,
ou, tête-à-tête.(como era gostoso o meu francês). Ao mais
velho, já residente médico, às vezes céptico, digo que não há mistério. Fica um
derradeiro registro que essa produção não é em série, não se trata de um
prêt-à-porter, pronto pra usar. Ledo engano, tem corte especial, caimento
justo, modelado para encaixe perfeito em coração valente, sensível e simples.
Esse terno de reis que foge ao
estilo tradicional,é sob a risca de giz de minha própria tarimba de artesão
aprendiz da vida..Qual magma em cordel determinado e resistente,a palavra lava
o solo da alma de um pai que ama e não se envergonha de abrir ala pra sua
folia.
Esse mimo que fiz com um punhado
de letras, cerzidas em ponto e vírgula, é um ofício prazeroso de agulha unindo
a linha. Pelas mãos do mesmo artesão que soube reconhecer brilhantes onde
dantes existiam pedras brutas que o mestre tempo lapidou. Carícia singela quais as palmas que ofertei à
única filha. É uma prenda, uma dádiva, como quando nos permitimos apreciar os
lírios do campo, simples em seus trajes de gala, recheados de flores claras,
doados pela mãe natureza. Nem o sábio Salomão e de tamanha riqueza, alcançou
vestes tão belas.
É preciso amor de qualquer jeito,
numa esquina de Belém ou Beagá. Com rima ou sem, eu preciso amar. A merecida
recompensa vem como herança àquele que pratica atos que um dia o levarão a
habitar o reino dos céus.
Agradeço a Deus pela benesse dos
dons que me há emprestado, em especial o de ser pai, de Rafael, Mariana e
Danniel. Pá e lavra, revelação do meu Ra Ma Dã.
Faladaspedras
25/12/2010
Gouveia


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