segunda-feira, 13 de maio de 2013

SINCRONICIDADE ENTRE UM PEREGRINO E EU PORQUE DEUS ME OUVIU



Deus me ouviu
Sabe aquela dor de alma que penetra como chuvinha renitente com sua umidade de lágrima de saudade e entristece o coração da gente? Não sei o quê de saudade, a corroer a fibra que me faz vencer a tormenta da depressão. Invasiva, corrosiva, quer rasgar minha bandeira desfraldada, que peguei emprestada à Petrobrás – o desafio é a minha energia. Não nego que fiquei meio "down".
Sabia que há na Terra duzentos milhões de cabisbaixos e ciclotímicos terráqueos, vacilantes e submissos à evolução de uma doença comportamental percebida na Grécia antiga (por Hipócrates), porém não resolvida mesmo na sociedade “avant gard” do primeiro mundo? No contemporâneo, após sucessivas mutações de “apelido”, ostenta o pomposo “nombre” de : bipolaridade, cruzes!...Me recuerda a la Guerra Fría, EE.UU. X URSS que casi termina el mundo (sic), sobre los cielos de Cuba, entre los misiles que se lanzará en Estados Unidos y el plano U-2 derribado en La Habana...  Afortunadamente, no pasó nada, a pesar de que Kennedy y Fidel permaneció en represalia feroz.
 Estou triste sim, de saudade de minha raiz de afeto, meu chão. Fraternal e distante meninice. Somos 8 irmãos. Infinitas possibilidades de amor ao próximo, mais próximo. Porém dois sócios em empreitada funesta, o tempo e a distância madrasta, isto decidiram abortar.
Envergonho não, lhe afirmo – senti ímpeto de digitar o número do telefone de minha mãe. Ouvir sua voz, sentada na velha poltrona. Perna estirada sobre tamborete, brigando com os personagens do mal, vibrando com a mocinha do bem, ao assistir a novela predileta – um de seus poucos entretenimentos, impedida de caminhar. Sei que este cenário foi desmanchado. Outras páginas da vida perderam seu pé-de-vento. Como folhas secas lançadas ao chão, rompeu-se o liame da realidade assim como o da ficção. Acontece que não existe mais Marina. O pai nosso, Realino, virou menino e qual passarinho voou. Habita no esconderijo do Altíssimo, descansa à sua Sombra, livre do laço do passarinheiro. E as tardes de domingo se encontrando os filhos a conversar? Os plantões espontâneos e diários, oportunidade rara de fraternidade que nutriu mais os corações irmãos que aos próprios pais – às vezes, doença prolongada é fio que conduz a energia do amor entre os iguais.
O fio se partiu. O tempo só fez aumentar a distância pro desejo alcançar a felicidade. Agora me pergunto: será preciso uma doença grave dentre os irmãos, para restabelecer o fio de união – a saúde afetiva de todos? Reconheço as necessidades próprias de cada filho e de cada família derivada do casal ancestral. Os diversos afazeres de responsabilidade no trabalho e também lazer. Em não havendo um propósito firme e comum, seremos mais um grupo familiar entre milhares desta grande cidade. Vala rasteira de neuras, medos, segredos e pior – um desbaratado amor.
A que isto leva além de agradáveis viagens ao interior das Minas, ou mesmo no estrangeiro? Continuaremos estagnados – água empoçada na plataforma da periferia de nós mesmos. O egoísmo tão impregnado nas pessoas é como iceberg que se quer introduzir em um copo d’água: implode o conteúdo pela sua massa e por sua frieza expansora. Exagero à parte, aprendi algo na estreiteza da vida de bolso vazio dos últimos tempos – a amizade fica sendo a única fonte de ânimo entre os humanos.
E aí então, quando aquela dor de alma se tornou mais pungente – pontiagudo pensamento reincidente espicaçando a sensibilidade esgarçada pela saudade de mim mesmo: eis que me vem a visitar onde moro, insulado entre montanhas, um conhecido do passado. De passagem resolveu me reencontrar. Um buraco negro de quinze anos condensou a distância. Agora um defronte ao outro. Felizes olhos, um par de brilho. Seu sorriso denuncia a alegria vazando de um coração sincero. Confesso que não o reconheci de chofre. A poeira temporal ofuscou meu olhar cansado – cílio molhado? Garanti ser cisco na visão. Nem mais nos vimos neste remoinho de anos, tampouco falamos. Além de grisalho, eu dez quilos mais pesado. Ele eliminou vinte. Sua estatura mediana. Mas o coração, "chagásico" de gordo afeto!
Estava longe daqui, disse que relembrou mais uma vez de mim. Isto era ontem. Hoje aqui está. Como bom velejador soube traduzir a brisa – quem sabe um passarinho lhe contou – da dor que remoía meu peito. Vento brando, sutil e ligeiro, o fez refazer sua rota para me rever a tempo. Firme no leme, ancorou seu barco neste mar de pedra e com sua mão simples de artesão – veio fazer doce de palavra amiga. Quer uma colherada desta coisa deliciosa? Na toada de sua delicadeza percebi o quão a amizade é um santo remédio.
Falou-me de Jesus – ainda me espera de braços abertos. Sua casa humilde como ele. Terreiro de chão batido no ritmo dos tambores de raiz d’África. Velho pobre e dedicado rei do congado. Da mesma forma o carpinteiro Maurício. Éramos unidos trabalhando num mesmo ofício. De pau e pedra. Móveis e utensílios, artesanato da cidade cuja lagoa é prata. Claro, aprendi que é ouro este sentimento cada vez mais raro. Como metal nobre conduz e reflete a luz do sol. Da vida, da alegria, do abraço apertado, do sorriso. Reconforta de energia nossa alma doída.
A presença de Samuel. É este o nome do peregrino, em minha morada (ele em corpo e alma amiga) – ausência do laço de sangue mas com o mesmo fio de união que conduz a energia do amor entre os iguais. Para algumas famílias se puiu, em outras perdura inda mais.
Agradeço a Deus por essa visita – /ânima /de vida a quem padecia de /banzo/. Agradeço a você, Samuel. Por sua ação de fraternidade, retransmitindo-me o bem-querer. Não por coincidência nem casualidade, seu nome significa em hebraico – *Deus me ouviu*

desenho de coração criança. Contentamento e encantamento, pelo ser que sou, bendito fruto do ventre materno



Às mães, meu respeito e homenagem
Mãe Natureza, Mãe Terra, Mãe Maria, origem e destino de todas as mulheres e mães que se doam para que se pulse e perpetue vida nesse planeta água. Meu presente singelo, rabisco de mão sinistra, desenho de coração criança. Contentamento e encantamento, pelo ser que sou, bendito fruto do ventre materno: Marina Linhares, amor guardadado debaixo de sete chaves, em meu peito, com saudade e respeito.

Mãe, simples assim

De Deus vem o dom da vida. Dar à luz é traduzir este dom na língua dos homens, através do ventre de uma mulher. É permitir parir um beduíno solitário, com seu camelo no deserto e feliz, assim como o mais poderoso homem da Terra e do dinheiro, isolado na Casa Branca com sua guarda armada para a guerra. Gerar um ser, alimentar, fazer crescer dentro de si. É um novelo construído dentro do útero materno com fio da paciência, firme no amor e maleável na entrega de seu corpo para abrigar outro, com zelo e carinho, por nove meses ou nove luas – a face feminina da natureza. O homem é como o Sol – é ação, trabalho, transformação. Nem de longe se equipara à gestação. Que é como a aranha tecendo a arquitetura de sua teia. A abelha rainha fazendo seu mel, o beija-flor qual helicóptero-mirim, paira no ar e em vôos ligeiros vai sugar o precioso néctar – ser mãe é simples assim. É humildade, é servir. Vejam o exemplo do mar oceano. É grande, imenso. É assim por saber aceitar ficar abaixo do nível de todos os rios, que ao final do caminho deságuam nele. Amor de mãe é assim – humilde, é entrega, grande, é imenso.
De Deus vem a Sabedoria. Através da Virgem Maria o verbo se fez carne, trazendo à Terra, a luz de seu filho unigênito – Jesus. Durante trinta e três anos aqui conviveu – o mais simples dos homens, o poderoso Deus. Maria de Nazaré, muito jovem, pura, desposou o carpinteiro José. Recebeu a honra de conceber o Bendito Fruto, pelo Espírito Santo – Jesus, o maior Homem, a Luz do mundo. Seu filho, de quem é filha. Complicado? Não, Deus e mãe, simples assim.
De mãe vem o dom de amar. Fluindo para todos os filhos com a mesma intensidade e brilho. Seja na criação, na educação, no estabelecer princípios e limites. Uma mãe zelosa, quando fala com o coração, coloca o amor dentro de seu lar. É preciso estar atento e perceber que cada um de nós tem um dom especial. Cada um de nós é especial e único – perante o Criador. Contudo nada nos faz mais especiais e únicos, que o dom de amar. Este é o nosso dom maior – dó maior querendo sair de nosso peito. Ajudando com o bem a luta contra o mal. O amor é como a luz do Sol refletida no cristal. Se reparte em sete cores de um arco-íris especial. Na partilha do amor, sempre recebemos o que damos, colhemos o que plantamos. Mistério? Não, filhos e mãe, simples assim.
Nós, os humanos, nem sempre reverenciamos nossa mãezinha aqui na Terra. Uma vez por ano lembramos dela, como fazemos no Natal – uma bola pro menino, boneca pra filha. No dia comercial chamado das mães, todos se tocam – principalmente pelo celular. Oi pra cá, Tim pra lá. É Claro um exagero, meu. Reconheço! Se liga, gente! Amor de mãe não descarrega a bateria e nunca cai na caixa postal (sua mensagem será gravada após o sinal, tóim, tóim, tóim). Tá sempre ligado, na sintonia. Pra finalizar – mãe não gosta de toquinho, de oi, tá boa? Medido por segundo. Mãe adora olho no olho, um sorriso, o abraço apertado. Quer dar o toque de um amor maior do mundo. Oi gente, se liga! Você não é mais um adolescente, você não é mais teen! É claro que mãe é simples assim.
Na tristeza por um filho quando morre, o coração de mãe sangra de dor. Assim mesmo guarda em seu peito, seu primeiro amor. Isto é igual para todos os seus. Os dedos da mão não são “tudo igual”, mas amor de mãe é – preto no branco, sem preconceito. Como na harmonia do teclado do piano – ébano e marfim, juntos. Irmanados na matemática musical. Seguindo a escala, compondo ritmos ressonantes no coração daquela que tem o maior amor do mundo.
Portanto:
DÓm da vida é dar à luz,
RÉsguardo, é o abrigo seguro.
MIlagre? O simples existir,
FÁzendo da vida, um ato de amor.
SOL e lua, as duas faces da harmonia do viver.
LÁ vai Maria, pro trabalho no seu dia-a-dia,
SIlêncio com ação é ouro, a palavra solta ao vento, é prata.
DÓm da vida é dar à luz.

Mãe, simples assim.

Fernando das Pedras
13-05-07
Domingo das Mães

MÃE QUEM DERA SE POR UM DESCUIDO DEUS TE FIZESSE ETERNA


Em nome da Mãe Terra, Madre Naturaleza, eu reverencio a  natureza de mãe, em todos os seus abençoados dias de vivência, no seio fértil da Mãe Sagrada, pela graça de nosso Criador. Quero ressaltar que reitero o meu crédito, de perceber que, não cabe em um só, (dia das mães comercial), o valorar da nobre missão do feminino ser, sob desígnio do Arquiteto Universal.



 Domingo das mães- às 9:49- Isso aí acima, Danielle Cunha, eu extraí da página de Ana Alvarenga, alma amiga antiga. Em seguida, (o que me é bem natural de meu perfil, como pessoa) fiz comentário no Facebook, esse diário virtual, ferramenta eficaz que nos aproxima de pessoas distintas, distantes dos olhos, perto do coração. Apartadas de nós, em diferentes geografias desse planeta àgua, nossa Mãe Terra. Origem e destino do trem da vida, teia, ou rede, fio enredado, novelo construído em nossa própria roca rudimentar, a existência contida entre o sacro e o profano, do comum do humano ser . Vamos lá ver então, moçada do Facebook:  -Quinta às 19:49 - Fernando Linhares
- Não por descuido, me cuido em perceber que não tenho saudades de minha mãe, porque ela se encantou, terna e eterna raíz , em meu coração aprendiz de amor. 
Sexta às 15:41-Valdenia Santos Silva
- Eu seria mais feliz se a minha mãe estivesse aqui hoje comigo...
Sexta às 15:43 - Fernando Linhares

- Oi Val! No meu caso, continuo contentando com ela, "guardadim" dentro de mim. Creio que vc pode se sentir assim também, com a sua mãezinha! ...
 Venho compreendendo que,de onde está minha mãe, essa, insiste em me fazer lembrar, através de e-mails, "inter-via-láctea" que, não devo me esquecer de fazer “o jogo do contente”. Ser persistente, em busca dessa tal felicidade, cuja chave e semente está “inside me”. Quem sabe?... Permita-me continuar, a guardar semente, em paiol imenso? Gratuita memória que humaniza e harmoniza, meu simples existir? Ecos da minha feliz e velha infância, me fazem recordar de outras tantas palavras sábias, dessa mulher que pacientemente, me aninhou em seu útero, por nove meses, me amou intensamente e de quem não tenho saudade mais... 
Assustei você, atento leitor? Calma! Esse “rio,”de dúvidas vai espraiar. A nostalgia que me permite, só suave lembrança foi abarcada, pelo amor que suguei de seu peito e me alimentou a afortunada infância. Criou raízes em mim e ainda circula em minhas veias abertas. Vaza meu coração e faz correnteza em todo meu ser. Tem sua origem, na memória que momento algum, deixa-me, esquecer de Marina: mãe, amada, amiga, professora, cúmplice, incentivadora. Meu sucesso como homem de pé e não, cobra rastejante, comedor da poeira de meu caminhar, todo o crédito é dela, vaso feminino do amor perpassado aos oito filhos gerados. Cada um, com seu bom bocado, cada qual com seu quinhão, na comunhão do amor em pedaços, de igual e imensurável dom.
O exercício da memória carece de ser constante, “Halteres mental”, ”Pilates cerebral”, pouco importa a nomenclatura, necessário é praticar. Ainda, do gênio de Einstein, a frase: ”Depois que uma mente se expande, nunca mais será a mesma”. Definitivamente, não tenho baliza, para inquirir o funcionamento e a fisiologia da mente humana. Todavia, a intuição que me guia, em madrugadas mergulhadas, no silêncio dessa casa, cercada em verde. Estação outono de minha vida, "estado de sítio", tranqüilo,"locus vivendi" que me harmoniza e é meu equilibrio. Todavia, me permite refletir que estou caminhando na direção certa, no sentido e meta, do segredo, do secreto, do sagrado que habita meu interno. A luz que o Criador permitiu ser, através da união de Realino e Marina que na Terra, não estão mais, mesmo assim continuam VIVOS, meus pais, eternizados na mina pródiga, a minha singular MIMORA.

 "Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...

Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...
E a vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão
Hê! Hô!...

Mas e a vida
Ela é maravida
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...

Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota é um tempo
Que nem dá um segundo...

Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...

Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida e viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...

Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der ou puder ou quiser...

Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...

E a pergunta roda
E a cabeça agita
Fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...Viver é não ter a vergonha de ser feliz". Gonzaguinha.

Agradeço a Deus pelos dons que me há concedido, por Marina, sua filha, minha mãe que em seu ventre , me há concebido. Gracias à lá vida que me hay dado tanto! Que me permitiu ser, um eterno aprendiz. Hoje, domingo das mães quero prestar singela homenagem ao feminino ser que aninhou em seu útero sagrado, homens e mulheres que habitaram/habitam, o planeta Água, planeta Chão, dentre as diversas moradas do Criador. Fecundados e alimentados de Amor, oriundo do seio das genitoras, filhas da Mãe Terra.Pra não ficar longo e cansativo por demais, favor seguir o link postado acima , em meu status."Hasta luego, compañeros" desse atalho virtual, sendero luminoso, esse tal de Facebook. Hahahá! Vamos lá, rapaziada!

sábado, 11 de maio de 2013

CANÇÃO PRA MARINA SORRIR PRA MIM



QUATRO MÃOS, UMA SÓ CANÇÃO, MARINA


Mão, de cabelos brancos toca uma rosa amarela que se abriu. É Marina – flor recolhida em algum monastério e seu jardim. Lá na Itália. É a “vecchia mamma”, dos oito irmãos. É a saudade que toca meu peito. É a mana Eliana que toca nas teclas de seu piano de ébano e marfim. Tom e semitom, ensinando que: juntos somos mais que um.



Luz do sol, acalentando o verde lá fora. Flores, diferentes matizes. Girassóis na janela. Vidro jateado, filtra a claridade, como véu. Tulipas em amarelo. Lembrei-me de Van Gogh e de Amsterdam. As tulipas em quadro. Girassol plastificado. Natural ou não, o foco tem equilíbrio nas cores. À porta, na parede esquerda da torre vestida de pedra, uma aparente folhagem fossilizada. Os passarinhos inundam de seu canto o espaço musical que meu ouvido alcança.
Na moldura sobre o piano, uma graciosa foto de um tempo passado. Mão, de cabelos brancos toca uma rosa amarela que se abriu. É Marina – flor recolhida em algum monastério e seu jardim. Lá na Itália. É a “vecchia mamma”, dos oito irmãos. É a saudade que toca meu peito. É a mana Eliana que toca nas teclas de seu piano de ébano e marfim. Tom e semitom, ensinando que: juntos somos mais que um. Harmonioso som ressonante, vibra em mim. A irmã bem dotada tira do teclado - “A noite de meu bem”. Marina gostava de cantar – esta em especial. Eliana vestida de branco e preto. Sua blusa em pois, repete a parceria do teclado de noir e claro. Contou-me que mamãe usara esta mesma blusa, que agora veste. Seu corpo, centrado sob o ritmo da melodia, que flui como regato entre pedras e mato.
Precisa nem dizer que escrevo com os olhos marejados. Quero registrar uma fotografia deste momento, neste foco, com a luz do meu coração irmão. Quero fazer “doble” de mãos se afagando ( como Marina dizia ). Quem sabe em duo canto – será que pode? Eu com a caneta qual batuta. Eliana unida no mesmo movimento, em seu dom e com seu tom de musicista.
No retrato de moldura por sobre o instrumento musical – Marina sorri com singeleza. Defronte, o Realino alarga o sorriso de menino. Seguro o cavaquinho – certo ar europeu – será pela boina? Seu olhar envia e-mail afetuoso para a mulher de sua vida. Mixagem de amor mais profundo ( demorei a entender seu jeito de amar ) e paz de criança dormindo.
Acredito sim, inda vivem em mim. Acredito sim, em meus irmãos também. Enquanto a mão faz o toque do dó-ré-mi, a mana sensível diz, no embalo da música, que esta muito lhe toca. Percebi, quando luz diáfana em seu entorno aumentava o perímetro do corpo. A cabeça e as costas se inclinaram. Certo clima de embevecimento impregnou a sala. Invisível mão no queixo, em êxtase pela música e ao momento singular! É certo que é dia, mas estou enxergando com a lente da alma. Amplia a visão, é sexto sentido, é emoção.
Marina, na percepção de uma neta poeta, é a primeira estrela que vier ao nosso pensamento. Eternizada, assim como seu par. Hoje eu sei – este bem demorou a chegar – pra mim é claro! Sei que terei no olhar toda a ternura que quero dar. De dia ou à noite, de meu bem. Por que hoje eu sei que vou te amar. Por toda a minha vida eu vou te amar, Marina.


  O menino Realino e seu cavaquinho. Seu olhar envia e-mail afetuoso para a mulher de sua vida. Mixagem de amor mais profundo ( demorei a entender seu jeito de amar ) e paz de criança dormindo.


PS -Precisa ser registrado que esta homenagem foi lapidada a quatro mãos – Eliana e Fernando. Dois sensíveis seres irmãos. Repartindo um dom, comungando sentimento como criança, ainda em fase de crescimento.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

O médico e presidente Bossa Nova, a mãe, o menino e o mar


 


O MENINO E O MAR
                                                        
Sob meu olhar de criança foi um Rio que passou em minha vida,
 amor à primeira vista  e até hoje não esqueci de namorar o mar,
belas imagens guardadas em minhas retinas fatigadas, para sempre
 
Marina da Glória, vista do céu, batizada com o mesmo nome de minha mãe e coroada com um coração de profundo azul marinho


A noite chegou e demorou a passar. Um muro de escuro, não deixou minha imaginação ver o outro lado do mar. Passou um navio com sua luz, apressado. Sob meu olhar de criança regalada, com tanto desconhecimento deslumbrante, frente à Baia da Guanabara. Foi no Rio de Janeiro de queixo caido, na janela do Hotel Glória. Espaço reservado pra turista estrangeiro. Minha mãe me colocou em sua bagagem, com direito a passagem nas asas da Panair. Fiquei alucinado na cabine do quadrimotor. Táxi, Chevrolet 48, até o aeroporto da Pampulha. Terno branco bem talhado, sapato novo e lustrado. Gravata borboleta preta, tudo em primeira edição: Mar, hotel chique, avião! O ano era de presidente Bossa Nova, no Palácio do Catete. Tudo para mim novidade: servida com requinte de hotel de luxo e sabor de manjar. Patrocínio do programa “Esta é sua vida”, TV TUPI, apresentado pelo ator Paulo Gracindo. Eu, menino nascido em uma roça iluminada, sendo levada ao palco de um espetáculo na cidade maravilhosa, como mágica de circo ___* É demais! Como diz o Faustão, que igualmente já tem seu circo:  ___ Ôorra meu!
À primeira noite, o menino mediterrãneo namorou o mar. Se encantou sob seu domínio. Agradou do seu cheiro e de algumas gotas salgadas que sentiu chegar, à sua boca. Mistérios! De olhos bem abertos, tateou no escuro o barulho das ondas, gritos e apitos vindos do cáis. Vozes cariocas passavam em frenesí abaixo do seu quarto de dormir. Tinha somente seis anos, este admirável mundo novo era simplesmente fantástico. Ser criança é simples assim. Guardo em minha retina, as imagens excitantes e coloridas deste amor à primeira vista, pelo Rio, pelo mar.
Manhã seguinte, fomos de trem ao Corcovado. Passamos pelos Arcos da Lapa, por Santa Tereza e depois puxados morro acima, por uma cremalheira (negócio esquisíto, espécie de corrente de bicicleta gigante) que ajuda a empurrar o vagão. Ladeando a bitola estreita dos trilhos, uma larga e bem cuidada floresta. Lá em cima, um belo sol ajudou a enxergar melhor, a maravilha de cenário que é esta cidade, debaixo dos braços do Redentor.
À noite, me recordo bem, aconteceu o momento principal de nossa ida à capital federal. “Esta é sua vida” neste dia, focava a história de uma amiga de minha mãe, trabalhavam juntas. Ao término do programa, além de homenagens e presentes, recebeu uma criança para adoção. Em Belô, morávamos na mesma rua. Fomos vizinhos por muitos anos. Este menino, já adulto, percebeu-se que era portador de deficiência, necessitado de cuidados especiais. Sempre acreditei que sua mãe o tratava com todo o amor, como verdadeiro filho. Eu, como verdadeiro filho de uma família de oito irmãos, sempre acreditei que minha mãe me tratava com todo amor. Nesta viagem, contudo, cristalizou-se em mim, mesmo infante, este sentimento. Sentia-me especial por ter sido o escolhido. 
Do menino e o mar, do amor de mãe, do outro lado do muro de escuro, o quê que há? Simplesmente pra mim, um tanto de desconhecimento misterioso, ainda. Porém, certeza eu tenho do nosso reencontro marcado. Vou estar juntinho dela. Vai ser lá, minha doce mãe Marina, onde “Esta é sua vida”, continua eterna!
A presença de minha mãe significava segurança. Sua mão firme me guiando traduzia proteção, amparo.  Fazer parte de um programa na Tevê, outro dia mais, passeando no Bondinho do Pão de Açúcar. Conhecer o Rio, “debaixo de suas asas” foi tão sublime e tão doce que mesmo após muitos Janeiros, (só Freud explica) tenho indelével na memória, a cidade maravilhosa e a primeira vez que a vi.
Por outro lado, depois de anos de reflexão e análise, venho a reconhecer que, minha mãe com sua luz, passou apressada sob meu olhar de criança cansada. Tornei-me adulto, sofri. Enfim, a sombra da noite chegou até ela e demora a passar. Deixou meu coração retraido em contração da dor, frente à última vez que a vi. Continuo apenas, um corajoso a mais, caminhando nesta terra, buscante do Norte. Um fernando sabido, nada além!  Do menino e o mar, do outro lado do muro de escuro, o quê que há? Simplesmente pra mim, um tanto de desconhecimento misterioso, ainda. Porém, certeza eu tenho do nosso reencontro marcado. Vou estar juntinho dela. Vai ser lá, onde “Esta é sua vida”, continua eterna!
Fernando das Pedras
05/08/2007
 Mister sorriso, médico, pé de valsa e presidente Bossa Nova, o Nonô da Dona Júlia, o menino Juscelino e sua casa, em Diamantina MG