domingo, 17 de março de 2013

Alma lavada n’água do rio, dança sagrada no fogo da oca



Alma lavada n’água do rio, dança sagrada no fogo da oca
Acostumado no passado, a respirar ar viciado de uma sociedade limitada, poluída e contaminada por dois seres beligerantes e alinhados na mesma comunhão excretora de efluentes. Sob forma de vaso, os dois corações partidos, a circulação nociva retém o conteúdo letal, veneno egóico. Resultado nefasto da ecologia interna: O casamento sumiu na voçoroca, sem chances de recuperação da área degradada. Felizmente emergiu do caos, três estrelas distintas que Deus permitiu sermos os pais que em terra fértil deitou-se a semente. Floresceu hoje, árvores de vida própria que os mesmos pais insistem em ser escora, muleta, espera engessando os movimentos à sombra de aparente conhecimento e à custa de sofrimento dos filhos queridos que precisam sair do ninho e o querem.Alçar vôo solo,mesmo acorrentados aos elos fracos da correnteza de um rio estagnado,água pobre de nutrientes na conduta do ser e podre de ausência de carinho,auto estima e validação. A família permanece unida, no desvario do barco sem remo, sem rumo. Adoecemos na travessia, escorbuto afetivo medra nossas almas, mesmo sendo de pedras o caminho, o banzo nos acometeu cobrindo-nos com seu manto de melancolia cinérea e o chumbo da solidão. . O esteio do navio, cupim comeu, o vaso feminino do amor era vidro e se quebrou. Santa inquisição em pleno XXI, a ferro e fogo não dá! Bebemos do ser, eco do espírito e vivemos comungando o ter: ruído estridente, reflexo do falso brilho do capitalismo selvagem. Tosca ironia de mentes envelhecidas em tonéis de preconceitos, a despeito de inteligentes... Onde anda o amor, minha gente tumbeira?
Eis que me deparo, no marco temporal de minha estação outono, com luzes matinais, sons suaves e naturais, cores magistrais, tingindo o horizonte de arco íris brilhantes, aliança no alto de um paraíso em terra xamãnica: um coração bem “brasil”: fogo ,calor e o tempero do amor.
Ah! A primavera bem-vinda despertou-me criança, alegre e feliz, na dança sagrada na oca e o rufar dos atabaques de mãe d’África, ritmado à batida dos porretes, herança sadia da casa de índio, presente na ginga capoeira maculelê. A benção no rio que não se apressa e me permite lavar os próprios pecados e levar as mágoas represadas em paredes concretas de ressentimento. Por um momento que se registrou na eternidade, eu vivi assim, ser criança é bom demais! Nesse curso natural que permite que rio, como ria quando infante, não tem preço tal alegria.
Os anos de chumbo transmutaram-se, alquimia do amor revelou ouro guardado em minas de meu profundo ser. Minas eu sou gerais, gosto do verde mar, jabuticaba, vento na serra, lençol de montanhas, mais ainda do verbo amar, no afirmativo, no tempo presente, no infinitivo, se eu lá chegar.
Inda quero dizer mais, pois homem que se quer sábio reparte o tesouro guardado em seu coração. Homem de pé, ereto e não rastejante serpente engolindo poeira, agitada em seu caminhar, anuncia a boa nova e revela a senha pra chegar ao coração da Terra, onde brota água da fonte cristalina, vegetal de força e luz: Peça a licença pra penetrar nos encantos à mãe de grau bem, seu amor aos homens bem aventurados é real, eu sou um de seus beneficiários e sou agora bem mais que feliz.
Seio da Mãe Terra jorra amor aos filhos redimidos, Pachamama proteja-me. Nessa Morada da Mãe Divina, reencontrei-me na mesma oca outra vez, ufa! Que gostosura, felicidade do tanto de meu querer. Filho pródigo à casa se abriga. Local sagrado habitado por seres alegres e serenos que renunciaram ao mundo que tanto nos apegamos, seres regidos pelo condão de sabedoria de mãe abnegada, maestrina do feminino amor.
Registro dessa maneira, sincero e sensível, as impressões de um caminhante em busca de si, em visita ao seu mundo interno, durante quatro dias que fomentaram um alicerce íntimo de cimento especial denominado Amor. Admito serem os primeiros quatro dias do resto de minha vida, em um admirável mundo novo e intestino, coração com mais virtudes, ainda vacilante, com desejo forte em ser um homem de fé, um homem de pé...
Fernando Linhares – alvorecer do dia18/10/2011

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