Alma lavada n’água do rio, dança
sagrada no fogo da oca
Acostumado
no passado, a respirar ar viciado de uma sociedade limitada, poluída e
contaminada por dois seres beligerantes
e alinhados na mesma comunhão excretora de efluentes. Sob forma de vaso, os dois corações partidos, a
circulação nociva retém o conteúdo
letal, veneno egóico. Resultado nefasto da ecologia interna: O casamento sumiu
na voçoroca, sem chances de recuperação da área degradada. Felizmente emergiu
do caos, três estrelas distintas que Deus permitiu sermos os pais que em terra
fértil deitou-se a semente. Floresceu hoje, árvores de vida própria que os
mesmos pais insistem em ser escora, muleta, espera engessando os movimentos à
sombra de aparente conhecimento e à custa de sofrimento dos filhos queridos que
precisam sair do ninho e o querem.Alçar vôo solo,mesmo acorrentados aos elos
fracos da correnteza de um rio estagnado,água pobre de nutrientes na conduta do
ser e podre de ausência de carinho,auto estima e validação. A família permanece
unida, no desvario do barco sem remo, sem rumo. Adoecemos na travessia,
escorbuto afetivo medra nossas almas, mesmo sendo de pedras o caminho, o banzo nos acometeu cobrindo-nos com
seu manto de melancolia cinérea e o chumbo da solidão. . O esteio do navio,
cupim comeu, o vaso feminino do amor era vidro e se quebrou. Santa inquisição
em pleno XXI, a ferro e fogo não dá! Bebemos do ser, eco do espírito e vivemos
comungando o ter: ruído estridente, reflexo do falso brilho do capitalismo selvagem.
Tosca ironia de mentes envelhecidas em tonéis de preconceitos, a despeito de inteligentes... Onde anda o amor, minha
gente tumbeira?
Eis que me deparo, no marco temporal
de minha estação outono, com luzes matinais, sons suaves e naturais, cores magistrais, tingindo
o horizonte de arco íris brilhantes, aliança no alto de um paraíso em terra xamãnica:
um coração bem “brasil”: fogo ,calor e o tempero do amor.
Ah! A
primavera bem-vinda despertou-me criança, alegre e feliz, na dança sagrada na oca e o rufar dos atabaques de mãe d’África, ritmado à batida dos
porretes, herança sadia da casa de índio, presente na ginga
capoeira maculelê. A benção no rio que não se apressa e me permite
lavar os próprios pecados e levar as mágoas represadas em paredes concretas de
ressentimento. Por um momento que se registrou na eternidade, eu vivi assim,
ser criança é bom demais! Nesse curso natural que permite que rio, como ria quando infante, não tem preço tal
alegria.
Os anos de
chumbo transmutaram-se, alquimia do amor revelou ouro guardado em minas de meu
profundo ser. Minas eu sou gerais, gosto do verde mar, jabuticaba, vento na
serra, lençol de montanhas, mais ainda do verbo amar, no afirmativo, no tempo
presente, no infinitivo, se eu lá chegar.
Inda quero
dizer mais, pois homem que se quer sábio reparte o tesouro guardado em seu coração.
Homem de pé, ereto e não rastejante serpente engolindo poeira, agitada em seu caminhar,
anuncia a boa nova e revela a senha pra chegar ao coração da Terra, onde brota
água da fonte cristalina, vegetal de força e luz: Peça a licença pra penetrar nos encantos à mãe de grau bem, seu
amor aos homens bem aventurados é real, eu sou um de seus beneficiários e sou
agora bem mais que feliz.
Seio da Mãe
Terra jorra amor aos filhos redimidos, Pachamama proteja-me. Nessa Morada da
Mãe Divina, reencontrei-me na mesma oca
outra vez, ufa! Que gostosura, felicidade do tanto de meu querer. Filho pródigo
à casa se abriga. Local sagrado
habitado por seres alegres e serenos que renunciaram ao mundo que tanto nos
apegamos, seres regidos pelo condão de sabedoria de mãe abnegada, maestrina
do feminino amor.
Registro
dessa maneira, sincero e sensível, as impressões de um caminhante em busca de si,
em visita ao seu mundo interno, durante quatro dias que fomentaram um alicerce
íntimo de cimento especial denominado Amor.
Admito serem os primeiros quatro dias do resto de minha vida, em um admirável
mundo novo e intestino, coração com mais virtudes, ainda vacilante, com desejo
forte em ser um homem de fé, um homem de
pé...
Fernando
Linhares – alvorecer do dia18/10/2011
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