Um singular “ruminante”
Pouco tempo
de nascido, se isolava do bando, mastigava o que recebia, indiferente. A
inércia dominava seus ímpetos (da idade, da raça). Parecia que uma cascata
intestina devorava e regurgitava para dentro de si mesmo, as ações. Sua
inteligência não se manifestava dinâmica. De costas, acocorado, sozinho, dedo
indicador direito fuçando o barro, brinquedo e molde para o contorno de sua
concreta fantasia. Aparentemente desplugado da realidade, a foto revela o
comportamento exótico, a par do alarido do grupo de mesma idade, de cinco anos.
Os humanos em
sua pedagogia prepotente preferem rotular com adjetivos que lhes convêm, os
filhotes (mesmo os de sua raça): deficiente, autista, síndrome de Down.
Esquecendo-se que ser diferente é normal. Enquanto isto o mestre tempo botou
fermento naquela massa nobre de inteligência fecunda. Aquele ser que ruminava,
macerava as idéias sopradas aos seus ouvidos, especulava e crescia,
principalmente em seu potencial interno. Evoluiu, superou alguns desafios. Hoje
estuda uma ciência que lhe exige, como pré-requisito ao sucesso profissional,
exatamente a singularidade caberroça de E.T., (no dizer de um tio) denunciando
um DNA de alta competência, traduzido em preconceituoso apelido (coisas dos
humanos, estes animais – os “racionais”). Predicado que permitiu-lhe
desenvolver a observação atenta, a escuta acurada, a concentração apurada
necessária a um cientista dedicado que precisa passar horas e horas estudando o
campo da lâmina de microscópio, para a conclusão de sua pesquisa.
Parabéns
jovem, ruminante e singular. Rejeitou o carimbo de deficiente. Cuspiu um
aparente defeito. Lapidou a pedra de seu caminho. Pode ser brilhante um dia,
multifacetado. Vale dez, melhor, duas vezes mais. Não o genial Leonardo. Da vinte
revoluções o planeta azul, para registrar o tempo que habita em mim o espelho
de você. Parabéns filho amado, pelo seu aniversário. Que Deus o abençoe em seus
vinte anos. Saúde e prosperidade, juízo.
Fernando das
Pedras
23-01-07
Gouveia
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