Um
dos sonhos sonhados, (todo dia monto cenário e palco para realizar meus sonhos)
é criar um espaço cidadão no pátio de pedras da Coopita, por mim idealizada que
reúna a fina flor dos “from below” (a ralé gouveiana), onde talentos múltiplos emergem
pelas mãos criativas de homens e mulheres. Por questões socioeconômicas a etnia
desses seres tem a matiz da raça negra da Mãe África. Lembro agora, letra da
música João Bosco que ensina assim:
“Liberdade, liberdade!
Abra as asas sobre nós (bis)
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz”
Abra as asas sobre nós (bis)
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz”
... Assim que penso em conviver,
na prática da fraternidade e tolerância aos irmãos afro-descendentes que
felizmente inundam o DNA de Gouveia, com sua fértil criatividade. Com
hipocrisia, alguns habitantes dessa urbe tem o olhar da soberbia, “de cima para
baixo”, como assim agiam os senhores feudais quando se aproximava de seus altos
muros de pedra, um andarilho em andrajos, ou mesmo um mendigo leproso. Digo
isso, porque tenho uma fina sintonia, física e de coração, aos homens e
mulheres da raça negra. Em especial, minha sensibilidade e subjetividade se
aguça, quando em contato com o corpo e a alma daquele povo do Espinho,
(reminiscência quilombola) “lócus” e cultura que fundamentou tese de doutorado em
Antropologia de uma cientista social da UNB. Mais de uma vez tenho atitudes de
Dom Quixote a defender de fantasmas, os irmãozinhos menos aquinhoados ante a
corja dos nascidos em berço de ouro, ou que assim se consideram superiores, no
estrato da sociedade aqui estabelecida. Resquício sórdido do pretérito, desde o
tempo em que esta região foi estigmatizada por relações servis degradantes e mesmo de
escravização. Considero que o principal preconceito, não é relativo à cor da
pele, sim, subordinado à condição evidente que a maioria daquela raça desafia
em seu viver: sem-teto, sem-terra, sem-emprego, sem a educação formal.
Parodiando Euclides da Cunha, esse homem negro, da cidade, ou sertanejo é antes de
tudo um forte.
Cena da Casa Grande & Senzala
Mucamas, servos e seus donos. Sobras e migalhas às crias
Pintura de Jean Baptiste Debret
Dia da consciência negra
Despido
de rótulos, mais ainda preconceituosos que vestem a nudez escancarada da
miséria socioeducacional de nosso povo, independente da raça, sugiro: Deixar de
ser um dia cravado no pé do calendário e passar a ser durante o ano todo, um
jardim da infância da convivência cidadã, onde possamos permutar flores da
experiência de cada um.
Permitir-nos,
construir uma ponte para dialogar com o outro. Como a criança que dá sua mão,
despreocupada com a cor da pele, da mão que a une à roda de ciranda. Sem medo
de ser feliz. Ser criança é simples assim...
A
beleza e a sensualidade mulata, imortalizada na tela de
Di Cavalcanti, resultante direta doimpacto ambiental positivo,
da opressão branca e a sujeição negra ,na geografia tropical
da Baía de Todos os e da Guanabrara, onde se dizia que
não havia pecado do lado debaixo do equador.
Di Cavalcanti, resultante direta doimpacto ambiental positivo,
da opressão branca e a sujeição negra ,na geografia tropical
da Baía de Todos os e da Guanabrara, onde se dizia que
não havia pecado do lado debaixo do equador.
A
crônica abaixo, de minha própria lavra traduz com ironia, a “pérola” que o Lula
tentou incrustar na campanha eleitoral da sua ocupante da vaga de presidente
até 2014. Na sua fala fácil, mesmo de língua presa pretendia “criar” o feriado
da Consciência Negra. Imagine leitor, se as outras raças (branca, amarela, indígena,
parda, etc) exigissem o mesmo direito teríamos uma semana completa de puro ócio
!
A CRIAÇÃO DO FERIADO
A criação do mundo, pelo
Arquiteto Universal, sabe-se que é uma obra magistral. Deus
projetou a Terra toda una e que o mar unisse e não separasse. O homem,
traço principal de Sua engenharia genética nasceu, para representar seu
Criador, crescer e desenvolver uma grande família terrena, iniciada por Eva e
seu companheiro Adão.
Cometemos erros, somos humanos. Estamos vivos e multiplicando a raça.
Graças à mãe natureza, à Eva ancestral e a todas as mulheres que ampliando
sobremodo os sofrimentos da gravidez, dão luz ao gênero, envoltas em dores.
Desde cedo, reconheço e respeito à grandeza maternal. Acredito que em
dias atuais, houvesse número maior de governos femininos, a paz habitaria entre
nós, mais frequente. Coragem em agir com o coração, menor razão a enviar um
filho à guerra. Carece ainda de explicação?
Um capítulo à parte, em Gênese é a relevância do trabalho na
construção do homem na terra. “Em fadigas obterás dela o sustento. No suor do
rosto comerás o teu pão.”
Volto a esse tema polêmico, logo adiante, quando debater o nosso país
dos dias atuais.
A “criação” do Brasil, pelos lusitanos, sabe-se lá, quantos mil anos
mais, tempos depois da grande obra do Mestre, ainda hoje “há controvérsias”.
Será que foi acidente de percurso?Ou será que Cabral partiu de Lisboa, saindo
do Tejo, com sua esquadra armada de treze navios, mil e duzentos tripulantes,
espanhóis, judeus, indianos, além da maioria portuguesa, de “cabeça
feita”?Certo é que o objetivo da viagem era aportar em Calicute. O Vasco
da Gama, que estava afastado da série A do campeonato português de almirante,
deu a dica pro nobre patrício. Álvares Cabral: siga a oeste de Açores, rumo à
ilha de São Nicolau. Abra o compasso em semicírculo largo. Para se afastar das
intempéries e calmarias, essa é a cama de gato. Ponha o sextante à funcionar.
Até chegar ao caminho das Índias Muito se afastou nesse périplo. Passados
quarenta e cinco dias “al maré” - terra à vista!
Na etapa final das grandes descobertas, Portugal era líder, empatado
com a Espanha. Nessa partida iniciada em Lisboa e programada para terminar nas
Índias, aos quarenta e cinco minutos do primeiro tempo, o inesperado: O
achamento daquele lugar que a princípio, o dirigente Cabral pensara ser uma
ilha. Batizado está: Ilha de Santa Cruz. Logo em seguida, substituído por Terra
de Santa Cruz. O dono do time e rei, dom Manuel, achou melhor chamar Brazil.
Naquele momento, o único produto extrativista, viável na pauta de
expansão mercantil é a árvore pau brasil.Deu nome àquele chão,a mão
dominadora.Não se ocuparam em saber que Ibirapitanga traduzia o mesmo,pros
verdadeiros donos daquela promissora gleba .Os nomes anteriores remetem aos
domínios da fé católica.No período colonial brasileiro,essa mesma religiosidade
exacerbada, em parceria com a Inquisição
(leia-se Companhia de
Jesus),acumulou um enorme saldo de gols contra.Preconceito de raça e credo,principalmente aos cristãos
novos (judeus convertidos), assentados nas cadeiras do Tribunal do Santo Ofício e aos
estrangeiros, na geral.
Aos povos da nova terra apossada, os portugueses, escolheram chamar de
índios. Demonstrando sim, a ignorância
e a ausência de respeito à alteridade do outro. Diferentes etnias, vários
troncos de linguagem, crenças. Da mesma forma se chamava em Portugal, de negro,
independente da cor. Todos da galera, a massa que ocupa o patamar inferior, os
“from below”, é a ralé.
Portanto, uma constatação: Batizar é nomear, dar nomes é conquistar,
nomear é tomar.
A visão preconceituosa e eurocêntrica permitiu aos conquistadores
catequizar,
escravizar para o trabalho extrativista e matar, para se apossar dos
bens indígenas.
Enquanto os grumetes do capitão mor, Álvares Cabral cobriam com manto,
as vergonhas nuas dos homens nativos, em visita à sua nau, com as velas de pau
arriado. Na praia, os marujos excitados, descobriam o caminho das índias. Sem
vergonha nenhuma, a aprumar o mastro. O pouco trabalho, não impediu de apreciar
as vergonhas tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das gentis moças de
longos cabelos pretos. Aí ,a miscigenação brotou ,naquela terra em que se
plantando,tudo dá.Voou pena de papagaio pra tudo que é lado.Um carnaval
tropical,entronizava o cortejo lusitano,em terras que se creditava ser o
paraíso.
O silvícola não se adaptou à escravidão exógena. Portugal, pretendendo
alcançar a vitória na disputa mercantil e expansão marítima, não titubeou. Foi
buscar recurso externo: cabeça de nego, para ser braço escravo. Corpo de baile
macabro que dizimou milhões, enquanto perdurou essa mancha em nossa história.
Cativos de eito ou garimpo, correu sangue do negro que tingiu com o selo da
morte, o brilho de cabeças coroadas da Europa. Mais uma vez, o ciclo da
monstruosa dominação. O fluxo de passos, da casa grande à senzala. Incremento
na produção de bastardos, alienados. Um item a mais, em meio a mercadorias e
animais. Entre a cana, o ouro e o café, a mistura das raças. Surgiu a mulata,
Produto de ponta, no samba e na pauta de exportação da Terrae Brasilis.
A criação do Brasil começou na Bahia de todos os santos e orixás. Um
porto seguro para um barco ancorado em corda de um só nó. De tramas de muitas
raças, um nó de todos nós. De todas as cores, como fita da escadaria do Senhor
do Bonfim. É certo que a Bahia tem, além de acarajé e quindim, a maior
população negra de nosso país. E com certeza, a maior riqueza cultural afro
descendente.
Hoje, nesse país tropical, governado por um presidente que insiste em
afirmar que sua sucessora vai comandar uma nação líder, entre as potencias
mundiais, o seleto clube dos G-8. Vale tudo, para eleger a candidata. A
ministra subir no palanque em período pré eleitoral,virou rotina,mesmo
aumentando a ferida na democracia que o “O Filho do Brasil” sempre lutou para
conquistar.
A ditadura de Getúlio, também popular, criou para Vargas a alcunha de
“O Pai dos Pobres e Mãe dos Ricos”. Fico pensando. Será que o controvertido
caudilho Getúlio Dorneles, amigo de Hitler, o manda chuva de mortes na Grande
Guerra, inspirou o dirigente sindical, nordestino e pobre?”Pau de arara”, ex
operário,quando fala,arrebata. Ao contrário de Figueiredo, gosta do cheiro de
povo. E a massa se identifica com o herói mitificado. Menino do rio de
Garanhuns passou a perna nos letrados sem ter estudado, garoto esperto.
Inteligente, tem um arsenal de frases de efeito que aprende ligeiro. É estrela
pro mundo. Já tem filme até. Amparado por empresas com interesses no governo.
No set e nos bastidores em Brasília, o que rola é que seu telhado de vidro
embaça, quando há fumaça do seu legado de disseminação do antivalor. Ou ainda,
carreiristas petistas ou não, no corredor do Congresso, em busca do mensalão.
Aquele que ninguém viu, nunca existiu e muito se falou.
Recente, em Salvador, na Praça Castro Alves, pertinho do Pelourinho,
“ó pa í, ó”. Não há melhor cenário, o ex deputado da constituinte, agora, no
mais alto cargo no palco da política, encenou uma peça chave. Na hora certa e
lugar certo, anuncia a criação do feriado nacional da consciência negra.
Dilma Roussef esquenta o diálogo, tratada pelo chefe, como futura
presidenta. ”O escravo foi sujeito ativo e criativo de sua própria história”
Pra quem tem doutorado em
Economia, o efeito da frase é pífio. Como pode, uma mer...
cadoria,(expressão do ex gordo, Faustão) ser sujeito ativo e criativo, na
história de seu dono?Apenas merda mole, pras “vaquinhas” da platéia, ruminarem
e aplaudirem...
Para quem desconhece, o verdadeiro idealizador do dia da consciência
negra, é Oliveira Silveira. Um homem negro especial, nascido nos Pampas, foi
poeta e tradutor dos sentimentos de sua raça.
Preferiu a data da morte de Zumbí e não da assinatura da Princesa
Izabel, por entender que esta libertação, foi decreto de imposição do poder. A
verdadeira liberdade vem de dentro. Orgulho e luta, unidos.
O poeta, já virou estrela. Deixa em obra simples, o que uma
economista,
candidata de proveta, não consegue racionalizar.
Garimpei em sutil mensagem, a sua versão à flor da pele, negra.
Em versos titulados, ”Encontrei
Minhas Origens”.
“Em malditos objetos troncos e grilhetas”... No leste, no mar em
imundos tumbeiros. Encontrei minhas origens em minha gente escura.
Nos lanhos de minha alma, em mim.
Nos meus heróis altivos encontrei”.
Uma consciência cresce paulatina e não tem cor, pois atributo do
espírito é.
Se o nosso titular da presidência, já em final de segundo tempo, quiser
agradar todas as raças, pois que, voto é quantidade, o que vale é a massa. Vai
precisar de uma semana de feriado...
Brasil país continente é rico na pluralidade. Abraça a diversidade de
uma maneira una, singular. Através do sentimento de humanidade, constrói seu
futuro enquanto nação.
Está em nossa raiz e se ramifica até o inconsciente dos políticos
contemporâneos. Seja quem tá na ponta da tabela e desponta como “o cara”. Amigo
de Obama, Chavez e do mandatário do Irã, ou mesmo um prefeito discreto, de uma
cidadezinha modesta. Falo da atitude de trabalhar com o suor dos outros, a
prática de escambo e a fartura de escândalo.
Para finalizar, peço perdão a você meu rei, se muito alonguei. Disse o
mesmo, o escrivão, Pero Vaz, em carta a Dom Manuel, quando acharam essa “terra
santa”. Cruz, credo.
O país precisa de educação e saneamento. Investimentos que não
aparecem aos olhos do eleitor. Aquele por amadurecer em longo prazo, este por
permanecer submerso.
A rixa com o time que perdeu o mando, seu antecessor é implacável.
Temos a melhor distribuição de renda, a maior cota racial, o Enem mais
inviolável, o apagão menor. Como Estado Liberal, não estatizamos nenhuma
empresa. O melhor lucro financeiro de todos os tempos. A crise aqui, só fez
cócegas na economia. Uma simples marolinha.
Para agradar o presidente que se regala com analogias futebolísticas,
vem aí o
último lance.Trocar quinquilharias por voto,usar dinheiro do
contribuinte para financiar feriado,é um absurdo,um escândalo.Serve de enredo
do Samba do Crioulo Doido, do saudoso cronista Stanislaw Ponte Preta, que
também esta na série B da vida.
A CRIAÇÃO DO FERIADO É ÓCIO ESTATIZADO
Faladaspedras
Julho de 2010
Julho de 2010
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