domingo, 11 de novembro de 2012

O Rio Chiqueiro e a sua cota de contribuição ao Projeto Manuelzão



O rio Chiqueiro era o lazer dominical da família de baixa renda gouveiana. À margem da rodovia BR- 292, em suas cristalinas àguas se aninhavam, qual um casal de bem-te-ví e seus filhotes, um mundéu de moradores que em alegre alarido se bandeavam à beira do rio saudável, numa relação abençoada pela natureza e de custo- benefício, com quociente altamente qualitativo, para o corpo, mente e coração.
Era assim , quando aqui aportei, há três décadas. Mergulhei, na Pedra Azul, cachoeira do Ragozino, sorvia aos goles, àguas sadias. Atualmente contribui com sua cota de fezes e urina de humanos, ao Projeto Manuelzão, pois, virou cloaca de três bairros à montante que o progresso gouveiano degradou.
Aqui jaz o rio,em seu leito assoreado de bosta.Agora, com nome apropriado:CHIQUEIRO!

PROJETO DE DESCONTAMINAÇÃO DO RIBEIRÃO DO CHIQUEIRO

INTRODUÇÃO

Conforme se pesquisou, a administração pública municipal iniciou em 1999, por recursos liberados através de dotação do governo estadual de Minas Gerais, a construção de uma estação de tratamento de esgoto -ETE. Com o objetivo de recolher e tratar os dejetos até então lançados in-natura no manancial em estudo, o Rio Chiqueiro (vide relatório no Apêndice).Principalmente fezes e urina dos moradores dos três bairros adjacentes.
De acordo com o que se apurou a fossa coletiva foi projetada com erro de engenharia sanitária. A planta ficou inclinada no sentido da estrada e em aclive com relação ao córrego. Com isso, a função de decantação de sólidos deixou de existir. Problema é que as fezes e a urina vazam pelo ladrão em direção ao ribeirão.
Resultado disso; mau cheiro,muriçocas, risco de doenças  infecciosas e contaminação do gado que bebe a água poluída do córrego.














DESENVOLVIMENTO

Em Minas Gerais, a função delegada para monitorar o meio ambiente está sob administração da Supram, que tem seu escritório regional sediado em Diamantina. Seu responsável técnico engenheiro civil, consultado sobre a questão do Rio Chiqueiro, respondeu que a solução do problema ambiental exige recursos estaduais e federais que transcendem a alçada de sua regional. Existe em nossa região um projeto vitorioso de nome Manuelzão, que foi criado por iniciativa de professores da UFMG - Escola de Medicina, em 1977. Seu principal objetivo é zelar pela qualidade da água do Rio das Velhas. Sua meta é fazer com que até o ano de 2014 possa ser navegável, piscoso e potável. Ressalte-se que o Rio Chiqueiro é uma sub-bacia de segunda ordem contida na bacia do rio contemplado pelo Projeto Manuelzão. Nesse instituto de nome de personagem de Guimarães Rosa, várias mãos abraçam a mesma idéia e persiste na mesma meta. É apolítico, ecológico, ambientalista e sócio econômico por estar voltado à população ribeirinha, no âmbito de resgatar dignidade e cidadania. Se entrelaçam no mesmo objetivo, instituições de ensino superior, principalmente da medicina sanitarista e de doenças tropicais, órgãos de fomento estaduais, institutos técnicos ligados a geologia, engenharia florestal e hidrologia, ONGs nacionais e estrangeiras, dentre outros. Muito significativo é que os colaboradores não cobram pelos serviços prestados.
Portanto, o rio Paraúna, maior volume d’água em nosso município, afluente do Velhas,recebe as águas do córrego Rio Chiqueiro,hoje doente ,malcheiroso e poluído.








REFERÊNCIAL TEÓRICO

 Segundo, Araújo (1998): Uma forma de estudar a integridade dos mananciais é avaliar a condição da água; bem como das comunidades ali presentes. Uma vez que ‘a habilidade para manter uma comunidade biótica equilibrada é um dos melhores indicadores do potencial (daquela água) para uso humano’.

“Problemas ambientais não ocorrem isoladamente, eles são parte da vida cotidiana moderna e gerados em contextos também complexos. Para solucionar problemas ambientais não basta a simples adição e aplicação de certos conhecimentos disciplinares.É necessário que ocorra cooperação e integração, tanto quanto possível, de disciplinas das ciências naturais,ciências humanas,artes e tecnologia   ”.

(Wilhelm Walgenbach professor da Universidade de Kiel, Alemanha,do livro “Interdisciplinaridade em Ciências Ambientais”)

















MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O rio Chiqueiro, localizado no município de Gouveia é afluente do Rio Paraúna que por sua vez é tributário do Rio das Velhas pertencente a bacia de São Francisco.
Nesse corpo hídrico objeto deste trabalho não é feito nenhum  monitoramento das condições ambientais que antes beneficiavam às suas margens as atividades agricultura,pecuária e lazer.
Serão feitas coletas trimestrais durante um ano com intuito de diagnosticar, analisar e obter diretrizes para descontaminação hídrica.

Análises Ambientais: A cada 500 m,na extensão de 2km serão coletadas amostras para analises mas acuradas usando o aparelho de GPS para melhorar precisão.

Resultados Esperados: Estabelecer as análises ambientais do rio.
Definir o diagnostico geral e comparativo da micro bacia para permitir a discussão e recomendação de medidas protetoras e de preservação do corpo hídrico estudado.

Objetivo Geral: Analisar a qualidade da água do rio em estudo devido  a permanência de dejetos humanos e lixo domestico lançados em seu leito, além do assoreamento provocado pelo desaparecimento da mata ciliar e deslizamento de solo de encostas as suas margens.
Propor solução que viabilize a utilização do bem ambiental pela comunidade.

Objetivo Específico: Monitorar o curso d’água no limite viável para que haja modificação dos índices de contaminação permitindo a utilização da mesma pela população para lazer e propiciar a qualidade de água para consumo humano.
CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES

De acordo com Maximiano (1997, p 20) “o resultado do projeto é o desenvolvimento da solução ou atendimento do interesse, dentro de restrições de tempo e recursos”

Atividades
1° Trimestre
2° Trimestre
3° Trimestre
4° Trimestre
Formação de equipe
       x



Biomonitoramento
x
x
x
x
Análise qualitativa da água
x
x
x
x
Plantio de mudas nativas(mata ciliar)
x



Acompanhamento do crescimento das mudas

x
x
x
Relatório Final



x


Tratamento do esgoto in natura do Rio Chiqueiro

O que sugere estudos técnicos pesquisados é a execução de depósitos de decantação, à margem do corpo hídrico cerca de 30m. Em forma de piscinas de decantação do lodo residual domestico que é coletado desde ETE e segue paralelo em interceptores que são tubulações de maior diâmetro, até as piscinas de tratamento, evitando-se assim a poluição do curso d’água.

Após um período de secagem e infiltração do liquido no solo, sem risco de contaminar o leito distante a massa orgânica pode ser usado como adubo no reflorestamento da mata ciliar.







RECUPERAÇÃO DA MATA CILIAR

 As matas ciliares exercem importante papel na proteção dos cursos de água contra o assoreamento e a contaminação com defensivos agrícolas. O Código Florestal “Lei 4.777/65” inclui as matas ciliares na categoria de áreas de preservação permanente, (APP’s) que esta sendo discutida no Congresso a sua reformulação.

Situação
Largura Mínima da Faixa
Rios com menos de 10 m de largura
30 m em cada margem
Rios com 10 a 50 m de largura
50 m em cada margem
Rios com 50 a 200 m de largura
100 m em cada margem
Rios com 200 a 600 m de largura
200 m em cada margem
Rios com largura superior a 600 m
500 m em cada margem
Nascentes
Raio de 50 m
Lagos ou reservatórios em áreas urbanas
30 m ao redor do espelho d'água
Lagos ou reservatórios em zona rural, com área menor que 20 ha
50 m ao redor do espelho d'água
Lagos ou reservatórios em zona rural, com área igual ou superior a 20 ha
100 m ao redor do espelho d'água
Represas de hidrelétricas
100 m ao redor do espelho d'água

Fonte resumida: Recuperação de matas ciliares. Sebastião Venâncio Martins. Editora Aprenda Fácil. Viçosa - MG, 2001.









JUSTIFICATIVA

Justifica-se o projeto pela necessidade de adotar medidas, mas eficazes para despoluir, descontaminar o rio, que é um bem comum tendo em vista a importância, deste para o município, assim como para bacia do São Francisco. Importante salientar que os resíduos dispostos inadequadamente aumentam os impactos ambientais e os riscos à saúde humana.
Em virtude dessas considerações, frisar a participação de gestão municipal, população e órgãos competentes para elucidar a problemática do rio em questão.























RELATÓRIO DE VISITA TÉCNICA

No dia 02 de Maio de 2011,em visita ao Rio Chiqueiro , constatou-se que o local esta com suas margens assoreada devido a rarefação de mata ciliar.Apesar da reconstituição de uma ETE continua a deposição à céu aberto de dejetos e lixo doméstico provenientes de três bairros próximos.Foi constatado em uma extensão de 2km em direção ao Rio Paraúna a erosão das margens e presença de resíduos sólidos no leito,de volume d’água bastante diminuído .Pode-se sentir o mau cheiro do local e constante presença de ratos,baratas e mosquitos.
Verificou-se a existência de um  bota-fora de resíduo sólidos de construção civil, à direita da rodovia Diamantina/Curvelo que no objetivo de minimizar os efeitos de uma grande voçoroca está precipitando no leito do Rio Chiqueiro uma parcela desse rejeito lançado por caminhões da própria prefeitura.
A solução mais viável é conter o mínimo volume até chegar ao ribeirão com a execução de muradas de pedra em alvenaria seca, permitindo a passagem de umidade na estação chuvosa e retendo os sólidos na parte interna da parede.














ANEXOS


Obs.: Trata-se de dados coletados em Diamantina/MG distante 33 km de nossa cidade, não foi possível obter o índice pluviométrico do município de Gouveia/MG por não ter os dados específicos disponíveis na Secretaria de Meio Ambiente e outros órgãos.













REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICAS


Revista Manuelzão (2009 p.57)
Maximiano (1997 p.20)
Araújo F .G Revista Brasileira de Zoologia (1998).
Sebastião Venâncio Martins. Editora Aprenda Fácil. Viçosa - MG, 2001.
http://www.arvoresbrasil.com.br/?pg=reflorestamento_mata_ciliar










AO SÊO DOTÔ DO COPÂO - PEDIDO DE SOCORRO

Prezado leitor,
hoje inteira sete anos que esse documento foi entregue em mãos, ao presidente do Copam, dr. Shelley Carneiro, em reunião itinerante na cidade de Àguas Vermelhas, norte de Minas que dista 750 km de nossa Gouveia. Fomos até lá em companhia da dra. Meire Almeida, à época, conselheira daquele colegiado e incentivadora da legalização ambiental, além da geração de renda àquelas 120 famílias da comunidade do Engenho da Bilía, em nosso município. Após a defesa da conselheira em prol da liberação das atividades na jazida de quartzito foi entregue a carta escrita a pedido de um líder trabalhador, sem alfabetização.
O presidente e engenheiro senior qualificado, mas sensível às questões humanas deferiu uma moção conjunta e unânime do Conselho paritário, no sentido de liberar as atividades na pedreira, paralisadas por força compulsória e imediata de auto de infração, até que se sanassem os impeditivos de normas legais.
Infelizmente, não logrou êxito tal ação de resgate da cidadania através do trabalho. Continuam na ilegalidade, os trabalhadores e aqueles poucos que ainda continuam explorando a pedreira para sustento familiar são ameaçados constantemente e assim fogem da polícia ambiental como se marginais fossem. A empresa AEG, titular do direito de lavra e a Coopita- Cooperativa de Pedras, jazem inativas e sujeitas às decisões jurídico-administrativas da Supram- Jequitinhonha. Desde aquela data, (2005) agarradas à teia burocrática que impede a solução de continuidade em benefício do trabalhador em seu habitat, como preconiza a Carta Magna em seu capítulo ambiental. Sendo a Constituição Federal, o fulcro de onde emanam todas as leis, como ficam as ações participativas do desenvolvimento sustentável, por parte das autoridades, no que tange ao principal ator social: o povo?
Gouveia, 09 de Novembro de 2012




Pedido de socorro

            Ao seu dotô do COPÃO.
Meu nome é Gabriel e trabalho no Engenho da Raquel. Desculpe meu jeito de falá. Sô home simpre. Nasci e fui criado nas roça. Meu pai e minha mãe criô 15 fio.
Meu pai curô muitas pessoa com as raiz da serra. Até as pessoa de  muita importança que tão bem viva até hoje. A infança minha e de meus irmão foi de muito sufrimento no mesmo Engenho. Quando nós tinha o armoço pra cume não tinha o caderno e lápis pra escola. Quando tinha caderno faltava rôpa e chinelo de sola de pineu.
Depois dos meu seti ano, nóis mudemo pro  Poço Fundo.Quer dizê de poço fundo só ficô o nomi. Tudo em vorta era campo e pedra e muita secura.
Região de lapero de campo seco.
Seu dotô e compitente auturidade ficamu sabendo de sua capacidade de intendê o coração do home trabalhadô da pedra ou da cidade.
Seu nome é difirci pra eu de pouco istudo escrevê.
Sou home sufrido de coração duido que os home da medicina já condenô. Graças a Deus tô sempre dando minhas risada. Pra quê chorá se não adianta de nada. Não tenho INSS. Sou do sindicato rural. Farta dez anos pra aposentá. Só tem a pedrera pra eu sustentá meus fio. Já tem sete ano que eu tô lá. Antes trabaiava com dente de cão, perto da pedra minera. Lá provocou uma grande erosão. Tapou os córrego do Engenho tudo. Hoje a sarvação da nossa região seu dotô de autoridade ta sendo a boa vontade do dono da pesquisa que deixa nóis tira pedra pra ganhá os trocado e dá ele uma menor parte.
Eu não posso mais usá os braço pra ganhá meu pão como sempre fiz. O dono do terreno permitiu eu colocá dois fio meu trabaiando. Eu vou ideano o silviço delis. Já tem dois ano que vivo assim. Tenho uma renda. Tenho o trabalho de cabeça e tô feliz.
Quer dizê tava feliz. Por que três fio de Deus da polícia florestá fechô tem dois mês a nossa mina de sustento. Só onde trabaio é sessenta home qui tão de braço cruzado. Fazê o quê, se na região só tem pedra. Não tem terreno bão.
Já fui pra São Paulo faze buraco no chão. Pra fincar poste. Fazê rede de esgoto botando a mão na merda de gente humana. Ganhava muito menos do que ganho agora. Sem usá meus braço que era forte. O trabaio na pedra é minha salvação. É perto da minha casa. Todo dia vorto pra minha famía. Faço minhas oração. Tinha o trabalho dia seguinte. Amanhecia como os passarinho. Rindo e com alegria ia caminhando pru silvirço.
Eles da florestal tem carro bonito. Nós temo o chinelão de sola de pineu. Chegaro dizendo que é uma denúnça pra apuração. Cês tão tudo dispensado. É a paralisação. Todo mundo si assustô. Parecia ave de arribação. Nóis vortô pra casa triste, mucho. Caminhando. Pois não temo carro. Pra lá vortá. Não somo anjo que tem asa pra voá. Somo comedô de feijão. Sofredô. Pelejando nessa terra de muita pedra. Sol quente no lombo e água pôca que trazemo de casa pra bebê no silviço.
Eu dependo pra vivê a custa de remédio. Parô a pedrera, cabô o dinheiro. Fico sem intendê. Seu dotô de autoridade. Será que eu vô sê pricisu marcá horas mais cedo com a morte?
A polícia prende e arrebenta, só no tempo dum tal de Figueiredo. Agora me dá medo de dá repetição.
Seu doto do COPÃO homi de boa vontade. Será que é verdade. Que a polícia tem  capacidade de decidí a vida de nós tudo? Será que eles tem istudo igual do sinhô? Compitente doto nas lei da tiração das pedra?
Fico sem intendê seu dotô da autoridade. Por que essas lapa criada por Deus nosso Senhor incomoda tanto a florestá? Pedra não é gente. Pedra não dá semente. Não cresce, não morre nunca. Pra que tanta vigiação? Lá não tem mato. Num tem pasto. Num tem água corrente. Muito menos uma nascente. Também não tem jeito de causar erosão. Igual na pedra de dente de cão. Primero não tem terra pra chuva leva, no meio das pedra minera. Depois é tudo prano. Será que a polícia não sabe o que qui é águas vertenti?
Será que num era mio alguém do meio ambienti orientá a gente? Virificá o qui tá errado? Aguarda o tempo de cunserto pra depois a policia fecha e murtá?
A polícia chegô di repente trôxe esti presente de feliz natal. Pra nóis tudo us trabaiadô.
Os treis rei mago fizero diferente, pro Minino Jesus. Tão fazendo até hoje pra eu também. Porque nas folia de rei que nus dia de hoje eu vô é como qui o meu tempo de criança vórta ôtra veiz!
E agora, seu dotô de autoridade tô sabendo que o sinhô é home de sensibilidade. Apelo pro seu coração. Resorva nossa situação. Tamo passando fome. Alguns cumpanhero bebendo seu desespero nas garrafa de pinga. A situação é de calamidade. Em nome de Deus, dos treis rei mago. De nossa Senhora. Peço sua caridade. Oie por nóis.
Tira por favô esta paralização de cima de nossas cabeça. Dá o direito de nóis drumi sono justo. Dá o direito do trabaio. Dá o direito de cidadão. Dá pra nós o nosso pão. Que eu possa ter um dinheirinho pra pagar a dentadura. Que a gengiva tá uma lisura e os dente já caiu de podre. Dá aos nosso fio, a esperança de comprá lápis e caderno pro ano que vem.

E pro sinhor, muita paz e um feliz natal. Que Deus permita que o sinhô dê pra nós este presente real de um feliz natal.
Queremo e precisamo de vortá ao trabalho. Muito agradicido pela sua atenção.
Que Deus abençoe sua decisão.

Seu criado.

                          Assinatura do trabalhador

Gouveia, 9 de Novembro de 2005